CURIOSAMENTE » Sousatitan, um dinossauro nordestino Identificado por profissionais da UFPE, animal foi estudado a partir de um fragmento de osso da perna, encontrado em Sousa, no Sertão da Paraíba

Publicação: 31/07/2016 03:00

Luiz fotografou o fóssil, recolhido pela Dra. Aline e outros paleontólogos da UFPE (Colecionadores de Ossos/Divulgacao)
Luiz fotografou o fóssil, recolhido pela Dra. Aline e outros paleontólogos da UFPE

O dinossauro mais antigo do período Cretáceo registrado no Brasil foi identificado no município de Sousa, no Sertão paraibano, por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco. O titanossauro, vulgarmente conhecido como “pescoçudo”, teve a identidade revelada a partir dos fósseis de uma fíbula, osso da perna, que permitiu ligar o grande réptil a pegadas encontradas na região, a cerca de 440km de João Pessoa, em parque conhecido como Vale dos Dinossauros.

O gigante nordestino era herbívoro, ou seja, apenas alimentava-se de vegetais. O animal teria vivido entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás, e, pelo que foi verificado, tinha apenas entre 1,40m e 1,60m de altura até o quadril e somente entre 5m e 5,7m de comprimento. Isso porque, com base em uma análise das células fossilizadas (encontradas em perfeito estado), estima-se que o espécime seria um adolescente, ainda longe da formação adulta, em que poderia atingir 50% mais altura e chegar aos 10m de comprimento. A análise do material foi realizada em laboratório da Universidade do Cabo, na África do Sul.

Apesar de tratar-se de uma nova espécie, o animal foi apelidado de Sousatitan – “o titã de Sousa” – mas ainda não recebeu nome científico, por não haver material suficiente para descrevê-lo cientificamente e batizá-lo com o nome em latim. “Essa foi a primeira vez que encontramos mais do que pegadas desses animais. Os grandes sítios paleontológicos do Brasil ficam em Sousa (PB) e Araraquara/São Carlos (SP), mas, em ambos, apenas eram encontradas pegadas, graças às condições geológicas da região – onde normalmente se preserva um, não se preserva o outro”, explica a paleontóloga da UFPE Aline Ghilardi, da equipe que identificou o titanossauro nordestino. “Estudamos a região há 30 anos e este é o ‘cálice sagrado’ da paleontologia. Sempre quisemos encontrar ossos. Pela primeira vez, identificamos os produtores dessas pegadas”, explica, sobre a relevância mundial do estudo.

Esta seria a primeira informação precisa de dinossauros que habitaram o Nordeste brasileiro no Cretáceo. A descoberta foi publicada pelo canal Colecionadores de Ossos, no YouTube, veículo voltado à publicação de informações paleontológicas produzido pelos próprios paleontólogos da UFPE, Ghilardi e Tito Aureliano. Este também é o registo mais antigo na porção central do Gondwana, supercontinente que compreendia o que hoje é a América do Sul, a África, a Oceania e a Antártica, unidos há 150 milhões de anos.

O osso que permitiu a pesquisa foi descoberto pelo morador Luiz carlos Gomes, em 2014. Ele publicou foto do material na internet. A equipe fez o resgate do fóssil e publicou artigo científico na revista Cretaceous Research. O material seguiu, em junho de 2016, ao parque de Sousa, onde ficará em exposição.

O animal

Adolescente

Ao chegar à fase adulta o Sousatitan poderia ter 50% a mais de altura de quadril

10m seria o comprimento máximo do adulto


De 5m a 5,70m de comprimento
De 1,40m a 1,60m (altura de quadril)
Menor espécie da família (SOFP 10)
Maior espécie da família (SOCA 13)
Localização: Fóssil achado em Sousa (PB), a 438km de João Pessoa
GONDWANA: Planeta Terra no período Cretáceo
Cretáceo: 144 a 65 milhões de anos

Herbívoro
Alimenta-se de vegetais, podendo alcançar copas de grandes árvores

Células preservadas
Análise histológica foi feita na África do Sul, possível graças a células fossilizadas no osso encontrado, o que fornece informações do animal em vida.

No coração do Sertão, um reduto de dinos

As inúmeras estátuas do Vale dos Dinossauros, na Paraíba, até então, faziam menção a possíveis dinossauros que habitaram o local, sem identificação, pautado em grandes pegadas conservadas no solo local.

A área de 1,7 mil km² virou unidade de conservação de proteção integral, em 2002, e é um dos sítios paleontológicos com maior número de pegadas em todo o mundo.

Apesar de Sousa ter ficado famosa como destino de estudo, a área total compreende partes de 12 municípios. Os rastros fossilizados apontam a existência de 80 na região, no passado.

O Vale

  • 43 metros é a maior trilha de pegadas de dinossauro encontrada em Sousa, considerada a maior do mundo
  • 5 cm é o menor rastro fossilizado encontrado na região (o dinossauro teria o tamanho de uma galinha).
  • 143 milhões de anos é a idade mais comum dos rastros encontrados na região
  • 391 é a perimetral que dá acesso ao parques