Tragédias de um país sem segurança
A morte de duas crianças por balas perdidas e o assassinato do surfista Ricardinho deram um alerta sobre o descontrole do setor
DANIELA GARCIA
politica.df@dabr.com.br
Publicação: 25/01/2015 03:00
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Protesto da ONG Rio de Paz na Praia de Copacabana contra a morte de crianças por bala perdida no estado |
As mortes de Larissa de Carvalho, 4 anos, Asafe Ibraim, 9, e do surfista Ricardo dos Santos, 24, chocaram o país na semana passada e engrossam as estatísticas da violência urbana. As duas crianças morreram ao serem alvo de balas perdidas em diferentes regiões do Rio de Janeiro. O Brasil é o segundo país onde há mais ocorrências desse tipo na América Latina, ficando atrás apenas da Venezuela, segundo relatório da Organização das Nações Unidas. Já o surfista catarinense foi vítima do despreparo da instituição que deveria defender a população, na opinião do Instituto Sou da Paz. Ao menos seis pessoas foram mortas por dia pelas polícias brasileiras em 2013, de acordo com dados do mais recente Anuário da Segurança Pública.
O menino Asafe, atingido por uma bala perdida na cabeça no último domingo, teve a morte cerebral constatada na tarde de quarta-feira. Ele estava com a família na área de lazer do Sesi de Honório Gurgel, Zona Norte do Rio. A criança tinha ido tomar água no bebedouro quando foi atingido. A polícia ainda não identificou a origem do disparo. Parentes e funcionários do Sesi estão prestando depoimento. Agentes buscam imagens de câmeras da região que possam auxiliar na investigação.
No caso de Larissa, a família andava com a criança na rua, após sair de um restaurante onde foram pela primeira vez, quando ouviram um disparo, na Região de Bangu. Logo em seguida, a garota foi atingida de cima para baixo pela bala perdida. A menina chegou a ser levada para o Hospital Pedro II, mas não resistiu. A Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio ainda não descobriu de onde partiu o tiro.
O relatório do Centro Regional das Nações Unidas para a Paz, Desarmamento e Desenvolvimento na América Latina e Caribe (Unlirec, sigla em inglês) mapeou 550 ocorrências envolvendo balas perdidas em 27 países do continente e atingindo, entre mortos e feridos, 617 pessoas. O ranking internacional contabilizou 22 brasileiros mortos e 53 feridos, entre 2009 e 2013. O levantamento foi feito a partir de reportagens publicadas nesses países. No Brasil, o maior número de casos tem como origem algum tipo de intervenção policial, como perseguição a supostos criminosos (27% das ocorrências). No entanto, em 40% dos casos não foi possível determinar a causa dos disparos.
Para o diretor executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques, as situações de mortes causadas por bala perdida são derivadas da falta de capacitação das polícias e ausência de um controle eficiente de armas no país. “É importante um treinamento de qualidade dos policiais. Eles devem ter a capacidade de acertar os alvos”, argumenta. Para ele, a melhor doutrina policial trata o uso de armas como o último recurso.