A noite mais escura Em série de tiroteios e de explosões suicidas, extremistas disseminam o caos em Paris, fazem reféns e matam mais de 150 pessoas. Estado Islâmico assume autoria da carnificina

RODRIGO CRAVEIRO
DO CORREIO BRAZILIESE

Publicação: 14/11/2015 03:00

Àrea dos ataques foi rapidamente isolada e o trabalho de investigação teve início ainda na madrugada de hoje (FRANCK FIFE/AFP)
Àrea dos ataques foi rapidamente isolada e o trabalho de investigação teve início ainda na madrugada de hoje
Paris, a Cidade-Luz, mergulhou na noite de ontem na mais absoluta escuridão do terror. Homens armados com fuzis Kalashnikov e cinturões-bomba atacaram sete pontos da capital francesa, em uma onda de atentados simultâneos sem precedentes. Seis tiroteios, três explosões — duas delas provocadas por militantes suicidas — e a tomada de reféns durante um show da banda de rock Eagles of the Death Metal, na casa de shows Bataclan, deixaram mais de 150 mortos e centenas de feridos, dezenas em estado crítico. As explosões, ocorridas durante o amistoso entre as seleções de França e Alemanha, em um bar próximo ao Stade de France, forçaram o presidente François Hollande a ser retirado às pressas do estádio e mataram quatro.

O horror apenas começava e se espalhava pelos distritos 10 e 11, no norte de Paris. Na Praça da República, um terrorista disparou mais de 100 vezes, matando quatro e ferindo gravemente 11. No Bar La Belle, na Rua Charonne, foram 19 vítimas. Outros atentados ocorreram no restaurante cambojano Le Petit Cambodge, na Rua Alibert (14 mortos); e no Restaurante Le Carrillon, logo em frente (3). O Itamaraty confirmou que dois brasileiros ficaram feridos. O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria dos atentados em série, por meio de mensagem publicada em sua revista Dabiq. “A França manda seus ataques aéreos para a Síria diariamente” (…) e essas ofensivas “matam crianças e idosos”. “Hoje, vocês estão bebendo do mesmo cálice”, escreveu a facção, de acordo com o SITE, uma página na internet de monitoramento sobre o terrorismo. Na quinta-feira, fontes do governo dos Estados Unidos tinham anunciado a morte do carrasco Jihadista John, membro do Estado Islâmico que apareceu em vídeos decapitando prisioneiros (leia na página b11).

“Eu ainda estou no Bataclan. Primeiro andar. Muito ferido! Há sobreviventes aqui dentro. Eles estão matando todos. Um por um. Primeiro andar, logo!” A mensagem de socorro foi publicada no Facebook por Benjamin Cazenoves, que teria sobrevivido à tragédia. Entre três e quatro homens vestidos de negro invadiram a casa de shows e, aos gritos de Allahu Akbar (“Deus é maior”, em árabe) dispararam com fuzis AK-47 durante 15 minutos. Muitos feridos, caídos no chão, foram atingidos até três vezes.
“Isso tudo é culpa de seu presidente. (…) O que vocês estão fazendo na Síria? Vocês vão pagar por isso agora. Isso é pela Síria e pelo Iraque”, diziam os terroristas, segundo depoimento de testemunhas. Por volta da 0h30 de hoje (21h30 de ontem em Brasília), agentes da Swat entraram no prédio. Três dos extremistas acionaram os explosivos amarrados ao corpo e se mataram ao serem confrontados pela polícia. O Ministério do Interior informou a morte de 112 reféns somente no Bataclan.

Até o fechamento desta edição, a polícia ainda caçava jihadistas por toda a Paris, após aconselhar que os moradores ficassem reclusos em suas casas. A Justiça da França abriu investigação por homicídio “em conexão com uma empreitada terrorista”.
Ao todo, cinco militantes foram eliminados. Hollande visitou a casa de espetáculos e prometeu um combate implacável contra o terrorismo. “Queremos estar entre aqueles que viram coisas horríveis, para dizer que vamos travar uma batalha e que ela será implacável”, declarou.