"Tinham 33 caras em cima de mim" Em depoimento à Polícia Civil, ontem, a adolescente vítima de estupro coletivo no Rio de Janeiro contou como ocorreu o crime que chocou o país

Publicação: 27/05/2016 03:00

Imagens pedindo justiça circularam pela internet
Imagens pedindo justiça circularam pela internet
A adolescente de 16 anos que teve imagens publicadas nas redes sociais depois de ser vítima de estupro coletivo disse ontem, em depoimento a policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil do Rio, que foi atacada por 33 homens armados de fuzis e pistolas. Ela contou que, no último sábado, fora visitar o namorado no morro do Barão, na Praça Seca, zona oeste carioca, e só lembra de ter acordado, no dia seguinte, “dopada e nua”, em uma casa desconhecida, cercada pelos agressores.

De acordo com os investigadores, quatro homens envolvidos no crime já foram identificados e terão a prisão preventiva pedida pela polícia em breve. Dois deles publicaram as imagens na internet. O terceiro aparece no vídeo divulgado nas redes sociais. Os nomes dos acusados não foram divulgados.

No depoimento à Polícia Civil, reproduzido no site da revista Veja, a vítima contou que, depois de acordar, vestiu roupas masculinas e pegou um táxi para casa, no bairro da Taquara, também na Zona Oeste. A jovem é mãe de um menino de 3 anos.

Ainda de acordo com o depoimento, ela soube, na terça-feira passada, que um vídeo com imagens suas depois do estupro havia sido divulgado nas redes sociais e em sites de relacionamento. Nesse mesmo dia, segundo as informações prestadas à polícia, ela voltou à favela e cobrou do chefe da quadrilha dos traficantes de drogas, não identificado, que devolvesse seu celular, possivelmente furtado no dia do estupro coletivo.

Segundo a jovem, o traficante disse não ter encontrado o celular, mas prometeu ressarcir-lhe o prejuízo. Disse também que se informaria sobre o estupro. A jovem identificou o namorado apenas como Petão, de 19 anos, que conheceu no colégio onde ambos estudam. A vítima disse que se relaciona com Petão há três anos. Ela afirmou que costumava usar ecstasy, lança-perfume e cheirinho da loló, mas que há um mês não se drogava.

No depoimento, a adolescente disse que está “profundamente abalada” e que, desde que foi estuprada, tem sentido muitas dores internas. Ela foi submetida a exames no setor de ginecologia de uma maternidade. “Quando acordei tinham 33 caras em cima de mim. Só quero ir para casa”, disse ela ao sair do hospital. (Agência Estado)

Violentadas

As estatísticas das Secretarias de Segurança Pública de todo País, reunidas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostram que mulheres de diferentes classes e raças são violentadas, “embora as negras sejam as principais vítimas letais”, segundo Samira Bueno, cientista social e diretora executiva do FBSP. A vítima do estupro coletivo não é negra.

Uma mulher é estuprada no Brasil a cada 11 minutos, segundo estatística recolhida pela FBSP. Como apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, é possível que a relação seja “de um estupro a cada minuto”, de acordo com Samira.

Ao todo, no Brasil, 47,6 mil mulheres foram estupradas em 2014, última estatística divulgada. No Estado do Rio, foram 5,7 mil casos.

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão vinculado à Secretaria de Segurança do Estado, revelam 507 queixas de estupro na cidade do Rio, neste ano. O número é 24% inferior ao de igual período (janeiro a maio) de 2015, quando houve 670 registros.

Na região da 28.ª Delegacia de Polícia, que inclui a Praça Seca, onde aconteceu o estupro coletivo, foram registrados 20 casos em 2016.

O estupro coletivo é “o caso mais grave já ocorrido no Brasil”, afirmou Samira Bueno, cientista social e diretora executiva do FBSP