Olhos especializados nas ruas e estádios contra o terrorismo Eventos internacionais, como a Olimpíada, provocaram o aumento do risco de ataques no Brasil e exigem mais observação

EDUARDO MILITÃO
Do Correio Braziliense

Publicação: 26/07/2016 03:00

Homens das Forças Armadas ocupam, desde o final de semana, posições estratégias nas ruas, áreas de lazer e nos locais dos jogos no Rio (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Homens das Forças Armadas ocupam, desde o final de semana, posições estratégias nas ruas, áreas de lazer e nos locais dos jogos no Rio

Anfitrião de eventos internacionais como a Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos deste ano, o Brasil aumentou a chance de ser alvo de ataques terroristas, apesar de, na avaliação de especialistas, ainda apresentar um risco bem menor do que outras nações. Por causa da exposição, o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) aumentará o número de agentes infiltrados nos eventos olímpicos, em especial nos locais de grande aglomeração de pessoas, como na cerimônia de abertura, em shows e partidas de futebol.

No Rio de Janeiro, funcionários de hotéis e concessionárias de serviços públicos foram orientados a relatar à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) movimentações estranhas de pessoas em horários considerados suspeitos e com roupas não condizentes com a clima da cidade durante os Jogos. Vários integrantes do Sisbin vão participar como “observadores de inteligência”. Eles estarão nos eventos à paisana, comprando ingressos, mas com o objetivo de recolher dados e repassar aos órgãos de segurança conforme vejam ameaças concretas nos locais de competição e nas ruas da cidade. “São pessoas treinadas para atuar como agentes de segurança nos eventos. Ingressarão nos locais de competição como parte do público espectador”, explica a assessoria da Abin.

Além disso, o Brasil monitora “dezenas de pessoas” suspeitas de terrorismo, que representam 1%, aproximadamente, dos combatentes terroristas no mundo, segundo apurou o Correio/Diario com autoridades que tratam do tema no Brasil e com dados da Polícia Internacional (Interpol). A entidade estima que existam mais de 7.500 “combatentes terroristas” no mundo, segundo informações recebidas de 60 países, relação aberta às agências de inteligência e investigação a fim de combaterem os criminosos. Além disso, há “milhares de registros adicionais” sob análise da Interpol para facilitar a apuração de casos de terrorismo pelas polícias locais, segundo comunicado da agência publicado na última sexta-feira.

São cerca de 100 alvos monitorados com uso de um sistema integrado de informações. José Maria Panoeiro, coordenador dos grupos de trabalho de Terrorismo do Ministério Público Federal em todo o Brasil e da Procuradoria da República do Rio de Janeiro, responsável por acionar a Justiça em caso de ocorrência de atentados nos Jogos Olímpicos, contou que a proximidade do evento e a publicação da Lei Antiterrorismo brasileira – que pune a preparação de atos radicais – aumentou o monitoramento de alvos no Brasil. “Tem uma série de monitoramentos”, contou.

Na avaliação de alguns analistas o número de monitorados é baixo. Só há “dezenas de pessoas” nessa situação, afirmou José Maria Panoeiro. As classificações de risco são mantidas em sigilo pelos integrantes do Sisbin. O procurador relatou uma conversa que teve há poucos dias, antes dos atentados em Nice, na França, com um agente francês que comentava a situação brasileira em relação a outros países. O investigador disse que os brasileiros não estão imunes a lobos solitários, porque isso entra na conta do imprevisível, mas não havia monitoramento da França de ninguém de terrorismo estrangeiro. “Vocês não têm realidade de guerra, não têm base da Otan, como a Turquia, que está em posição estratégica”, avaliou o francês.