A corrida pelo ouro no Pará Empresa canadense vai instalar a maior mineradora do país em área cercada pelo Rio Xingu e por comunidades indígenas

Renato Souza
Especial para o Correio Braziliense/Diario

Publicação: 24/06/2017 03:00

A uma distância de 13 quilômetros da Usina de Belo Monte, no Pará, um projeto ainda maior e mais polêmico começa a chamar a atenção. A empresa canadense Belo Sun pretende instalar, na região, a maior mineradora de ouro do país. Mas o local é cercado pelo Rio Xingu, por três comunidades indígenas, além de 300 famílias que vivem do cultivo e da pesca. A mineradora pretende extrair 600 toneladas de ouro em 12 anos, ocupar 346 hectares, atuar ao longo de 120 quilômetros do Xingu e deixar um rastro de 504 milhões de toneladas de rejeitos de minério. Tudo isso com um investimento de R$ 1,5 bilhão.

Em fevereiro deste ano, a Secretaria de Meio Ambiente do governo do Pará emitiu autorização para que a obra tivesse início. No entanto, uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) resultou na paralisação do projeto, por conta do impacto ao meio ambiente e aos territórios indígenas. Entre as comunidades tradicionais que estão na região de Belo Sun, algumas são de indígenas isolados, ou seja, que nunca tiveram contato com o homem branco. As comunidades diretamente afetadas pelo empreendimento seriam as que ficam nas terras indígenas de Paquiçamba, Arara da Volta Grande do Xingu e Itatá.

O coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), José Cleanton, afirma que os indígenas não foram consultados sobre o projeto. “Qualquer obra próxima à terra indígena é uma ameaça. A Belo Sun está a uma distância de 9 a 10 quilômetros das aldeias. São três comunidades, mais a área do Itatá, que tem a presença de índios isolados. Eu moro nessa área há 20 anos e as alegações são sempre as mesmas. As empresas e governo falam em criar empregos, gerar ganhos econômicos”, destacou.

Se construída, a mineradora de Belo Sun integrará a paisagem que circunda a hidrelétrica de Belo Monte. A usina já provocou uma redução de 80% na vazão do Rio Xingu, usado por comunidades locais para irrigar as plantas, para o consumo de água e para a pesca. O ouro é usado por indígenas para comércio e para a confecção de acessórios. Ao todo, cinco decisões da Justiça proíbem o andamento das obras.

O advogado Carlos Alberto Oliveira ingressou com uma ação contra o empreendimento no Supremo Tribunal Federal (STF). “Eu decidi entrar com ação por conta do projeto gigantesco. Não tem nenhuma discussão em âmbito local sobre isso. É uma questão social, ambiental, indígena”, ressaltou. Em comunicado, a empresa Belo Sun Mineração destacou que, além de realizar audiências públicas com duas comunidades indígenas, protocolou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do Projeto Volta Grande, na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), em 2012.

De acordo com a empresa, “o empreendimento foi considerado econômico, social e ambientalmente viável”. Já a Secretaria de Meio Ambiente do Pará afirmou que a licença de instalação do projeto Volta Grande, da empresa Belo Sun, está suspensa, após ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF).

Polêmica dourada
A mineradora de Belo Sun será instalada no município de Senador José Porfírio, na região do Xingu, no Pará. Essa será a maior mineradora a céu aberto do país e os impactos ao meio ambiente e aos povoados locais preocupam moradores, indígenas e ambientalistas. Doze anos é o tempo de exploração da região próxima ao Rio Xingu, de acordo com autorização expedida pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do governo do Pará.

A obra
  • 600 toneladas de ouro é a expectativa de extração mineral durante os 12 anos de operação da empresa.
  • 504 milhões de toneladas de rocha com material estéril quimicamente ativo serão deixados na região.
  • 346 hectares serão ocupados por duas pilhas de rejeitos que sobrarão dos trabalhos de extração mineral.
  • 3 comunidades indígenas isoladas serão afetadas pela obra e trabalho de extração. As comunidades afetadas serão as que ficam na Terra Indígena (TI) de Paquiçamba, TI de Arara da Volta Grande do Xingu e TI Ituna/Itatá.
  • 120 quilômetros do Rio Xingu seriam usados para as atividades de mineradora.
  • A comunidade indígena mais distante do centro da mineradora fica a 13 quilômetros.