Número de suicídios cresce 12% em quatro anos no país Dados revelam que o Brasil está na contramão do compromisso de reduzir em 10% número de casos até o ano de 2020

Publicação: 22/09/2017 03:00

O número de mortes por suicídios no Brasil aumentou 12% em quatro anos. Em 2015, foram 11.736 notificações ante 10.490 registradas em 2011. A diretora do departamento de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Fátima Marinho, atribui em parte os indicadores à melhora nos registros e ao aumento da população, mas reconhece que o avanço do problema no país é um fato que precisa ser combatido. “Assumimos na Organização Mundial da Saúde o compromisso de reduzir em 10% o número de casos até 2020. Para alcançar essa meta, precisamos agir de forma rápida e, sobretudo, nas áreas que indicam maior risco”, afirmou Fátima.

Entre as medidas que deverão ser colocadas em prática está o aumento de Centros de Atenção Psicossocial em regiões onde os índices de suicídio são considerados mais altos e melhora dos fluxos de serviços de saúde para prevenção do problema. Além disso, novos estudos deverão ser realizados para identificar as possíveis causas para o aumento de casos em determinadas regiões do País e ações específicas para populações indígenas, onde casos também ocorrem com maior frequência.

Dados de Boletim Epidemiológico lançado ontem deixam claro problemas de atendimento. Das mortes por suicídio entre 2011 e 2016, 31,3% ocorreram entre mulheres que já haviam tentado outras vezes. No grupo masculino, o porcentual é menor, mas também expressivo: 26,4%. “Aqui nós percebemos a falha. Não agimos para evitar uma segunda tentativa”, alerta Fátima. No caso das mulheres, a maior parte das tentativas de suicídio está relacionada à violência intradomiciliar. “Os números reforçam a necessidade de trabalharmos na prevenção contra a violência, uma causa importante para a mortalidade feminina: seja o feminicídio, seja o suicídio.”

Das tentativas de suicídio registradas no país no período entre 2011-2016, 69% ocorreram entre mulheres. Quando se analisam os números de morte provocadas por suicídio, no entanto, a situação se inverte: 21% ocorreram entre mulheres e 79%, entre homens. Também preocupa o Ministério da Saúde o avanço da suicídio entre jovens. Essa é a quarta causa de morte de brasileiros entre 15 a 29 anos. No mundo, o suicídio é a segunda causa entre essa população. Isso não significa, no entanto, que o Brasil esteja em uma situação melhor. “No país, o jovem morre antes por violência. São dois fatores que acabam concorrendo entre si”, explica Fátima.

Na avaliação da coordenadora, se dados de mortes por outras causas de violência fossem menores, o problema do suicídio entre jovens estaria mais evidente. “Isso mostra a necessidade de termos ações específicas para essa população.” O boletim indica, por exemplo, um crescimento de suicídios na faixa entre 10 a 19 anos de 2011 a 2015. Os casos subiram de 782 para 893.

Regiões
Um dos fatos que mais chamam a atenção é a concentração de registros de suicídios em algumas áreas. A região Sul apresenta 23% dos casos, embora responda por 14% da população brasileira. No Sudeste, região que concentra 42% da população, foram registrados 38% dos suicídios no país.

Estão no Rio Grande do Sul três das quatro cidades com piores indicadores de suicídio. O município de Forquetinha é o que apresenta a pior taxa de suicídio no país. São 78,7 casos a cada 100 mil habitantes (a taxa de mortalidade nacional é de 5,7 a cada 100 mil). Em segundo lugar, vem Taipas do Tocantins, com 57 casos por 100 mil. Travesseiro, no Rio Grande do Sul, vem em terceiro lugar, com 55,8 casos por 100 mil; e André da Rocha, também no Rio Grande do Sul, com 52,4. (AE)

 

Suicídio

Causas

Pessoais

– Falta absoluta de perspectiva
– Enorme sensação de desamparo e angústia
– Quadro de transtorno mental tratável:
– Depressão
– Transtorno bipolar afetivo
– Esquizofrenia
– Quadros psicóticos graves
– Transtornos de personalidade, como o borderline
–  Histórico de drogas, álcool e outras substâncias

Sociais

– Violência
– Instabilidade econômica e social
– Competitividade cada vez maior

Sinais

– Desinteresse pelas atividades que sempre foram prazerosas
– Sentimento de inutilidade e de culpa
– Cansaço extremo
– Irritabilidade
– Dificuldade de concentração e de tomar decisões
– Falta de higiene com o próprio corpo
– Tendência a achar que é um fardo para amigos e família
– Baixa qualidade de sono
– Perder ou ganhar peso
– Isolamento social
– Quebra no vínculo familiar

Como evitar

– Pessoas mais próximas e desconhecidos devem acolher e encaminhar a pessoa ao tratamento com os profissionais adequados
– Conscientização da família, denominada psicoeducação
– Fortalecimento emocional e mental de quem apresenta os sintomas

Fontes: Rottili Brandão (psicóloga) e Régis Barros (psiquiatra)