Estudo reforça concentração de renda Segundo relatório global da Oxfam, cinco ultrarricos brasileiros ganham o mesmo que metade da população em todo o país, um dos mais desiguais do mundo

Publicação: 23/01/2018 03:00

Se a alta recorde das principais bolsas do mundo parece ter empurrado boa parte dos novos bilionários de 2017 para o topo do topo da pirâmide socioeconômica global, no Brasil outros fatores tendem a influenciar mais nossa desigualdade de riqueza. O país ganhou 12 novos bilionários em 2017. Hoje, eles somam 43 ultrarricos. Cinco deles têm riqueza igual à da metade da população brasileira. O país foi apontado por diversos estudos como um dos mais desiguais do mundo.

O relatório global da Oxfam aponta que cerca de um terço das fortunas dos bilionários do mundo provém de heranças ou de relações clientelistas entre empresários e governos. Os dois fatores parecem operar por aqui. No Brasil, as alíquotas de imposto sobre herança chegam no máximo a 8%, quando no Reino Unido, por exemplo, podem atingir 40%.

No quesito clientelismo, basta ver a lista de doadores de campanhas e os empresários investigados ou presos pela Operação Lava-Jato para perceber que parte da classe política tem se deixado capturar por interesses pouco republicanos.

Peça-chave na promoção da desigualdade é o sistema tributário regressivo, que penaliza o consumo, portanto, os mais pobres, mas isenta lucros e dividendos e artigos de luxo, como jatos, iates e helicópteros. Com isso, os 10% mais pobres do país gastam 32% de sua renda em tributos, a maior parte deles indiretos (sobre bens e serviços), e os 10% mais ricos gastam 21%.

Para o economista Sérgio Firpo, professor do Insper, o debate sobre os bilionários tem outro contorno no Brasil. “Nossa desigualdade é mais ligada a problemas estruturais, como falta de educação pública de qualidade e o fato de os servidores públicos, ativos e inativos, ganharem muito mais que o restante da população”, diz. “Além disso, gênero, cor de pele e região do país mudam o acesso a oportunidades.”

A Oxfam é organização internacional não-governamental de combate à pobreza e desigualdade. Segundo ela, há no mundo atualmente 2,043 mil bilionários, sendo que nove entre dez são homens. A pesquisa mostra ainda que o patrimônio somado dos bilionários brasileiros chegou a R$ 549 bilhões no ano passado, um crescimento de 13% em relação ao ano anterior.

O levantamento mostra que de toda a riqueza gerada no mundo em 2017, 82% ficou com 1% da população. O trabalho diz que tratar apenas da geração de novas empresas, mantendo as atuais condições precárias de trabalho, é “uma forma ineficiente de se eliminar a pobreza’.

O relatório foi lançado ontem, antes do início da reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Do Brasil participarão, além do presidente Michel Temer, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles; Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco; Candido Botelho Bracher, presidente do Itaú Unibanco, e Paul Bulcke, presidente da Nestlé. (AE e Folhapress)

Recomendações

Da Oxfam ao Brasil

  • Limitar os retornos a acionistas e altos executivos de empresas
  • Acabar com as diferenças salariais por gênero
  • Garantir que os ricos paguem uma cota justa de impostos e tributos
  • Aumento dos gastos com serviços públicos, como de saúde e educação