Um retrato de quem mora nas ruas de PE Características foram obtidas a partir de dados do Observatório Nacional dos Direitos Humanos com base nos números do CadÚnico

Mareu Araújo

Publicação: 04/01/2025 03:00

O retrato da pessoa em situação de rua em Pernambuco pode ser descrito assim: é um homem pardo, de idade entre 30 e 39 anos, que já frequentou a escola e sabe ler e escrever ao menos o nome. Esse homem não tem nenhum contato com a família, afinal, foram os problemas com eles que o fizeram sair de casa, ele dorme na rua e busca assistência em Centro de Referência à População de Rua. Tenta sobreviver fazendo bicos, às vezes catando recicláveis, guardando carros e também na construção civil.

Esse retrato foi desenhado a partir de dados do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH) com base nos números do Cadastro Único, coletados até julho de 2023, divulgados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

O homem descrito pode ser Robson Pessoa. A mãe faleceu e em seguida o pai. Após constantes brigas com os irmãos ele saiu de casa e passou a viver na rua. Lá ele viveu por 12 anos, entre 2007 e 2019. “Passei uma semana sentado em um banco no Cais de Santa Rita, próximo à Integração. Quantas pessoas passam ali todos os dias? Nem uma me deu um bom dia ou perguntou se eu precisava de algo. Foi uma pessoa em situação de rua que se aproximou para conversar e me trouxe alimento. Eu sou muito grato a essas pessoas”, relata.

Robson conta que passou dois anos vivendo no anonimato, e só foi encontrado pelas filhas ao aparecer em uma reportagem televisiva, que oferecia banhos a pessoas em situação de rua. Hoje, Robson é formado e milita pelas pessoas em situação de rua, fazendo parte de comitês estaduais e sendo integrante da coordenação do Movimento Nacional da População em Situação de Rua.

Ao falarmos do Brasil, o número de pessoas vivendo assim aumentou, aproximadamente, 25%. Segundo o levantamento divulgado, nesta sexta-feira (3), pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais, em dezembro de 2023 havia 261.653 pessoas nesta situação, em dezembro de 2024 o número chegou a 327.925.

“O aumento dessa população de rua é uma indicação de que alguma coisa está acontecendo. Talvez seja a da impossibilidade da empregabilidade ou da perda de posses”, comentou o coordenador da Cátedra Unesco Unicap Dom Helder Camara de Direitos Humanos e professor de Direito da Universidade Católica de Pernambuco, Manoel Moraes. Segundo o professor, a forma negativa de enxergar a pessoa em situação de rua se trata de uma postura da sociedade em que, “quem não produz, não pode ser inserido no sistema”.