Secretário cancela agenda com Haddad Scott Bessent, do Tesouro americano, deveria se encontrar com o ministro amanhã. Para o brasileiro, a mudança teve motivação política

Publicação: 12/08/2025 03:00

Haddad disse que o Bessent fez o contato para o encontro que ocorreria amanhã (MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL)
Haddad disse que o Bessent fez o contato para o encontro que ocorreria amanhã

Prevista para amanhã, a reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, foi cancelada. A informação foi divulgada pelo próprio Haddad, que atribuiu o cancelamento a uma articulação da extrema-direita estadunidense. “A militância antidiplomática dessas forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca teve conhecimento da minha fala, agiu junto a alguns assessores, e a reunião virtual que seria na quarta-feira foi desmarcada”, declarou o ministro, ontem, em entrevista concedida à GloboNews.

Na semana retrasada, Haddad tinha dito que Bessent o tinha procurado para discutir o tarifaço do governo Donald Trump sobre os produtos brasileiros. O encontro primeiramente ocorreria por meio de videoconferência e depois seria estendido para uma conversa presencial. “A assessoria do secretário Bessent fez contato conosco ontem [quarta-feira, 30] e, finalmente, vai agendar uma segunda conversa. A primeira, como eu havia adiantado, foi em maio, na Califórnia. Haverá agora uma rodada de negociações e vamos levar às autoridades americanas nosso ponto de vista”, disse Haddad no último dia 31.

Haddad disse ter sido informado do cancelamento por e-mail, “um ou dois dias depois” de o próprio secretário de Tesouro dos EUA ter informado a reunião à imprensa. O ministro considera a motivação do cancelamento política, não econômica. “Agiram junto a alguns assessores do presidente Trump, e a reunião com ele, que seria virtual na quarta-feira, foi desmarcada e não foi remarcada até agora”, comentou Haddad. 

“O Eduardo (Bolsonaro) publicamente deu uma entrevista dizendo que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos, porque o que estava em causa não era a questão comercial, ele deixou claro isso em uma entrevista pública”. Haddad disse que ao cancelar o encontro “argumentaram falta de agenda. Uma situação bem inusitada. O que fica claro para nós é que a questão comercial não está em foco”, afirmou. O ministro da Fazenda lembrou ainda que o Brasil está tendo tratamento diferenciado em relação a outros países e blocos econômicos que conseguiram negociar com o governo de Donald Trump, como a União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul. 

Na entrevista, ele também fez crítica a adversários. “A oposição está cometendo um erro grave. Os governadores de extrema direita que querem o apoio do Bolsonaro em 2026 estão cometendo um erro. Estão colocando a sua vaidade acima do interesse nacional. Isso não se faz”, declarou. 

RESPOSTA
Também ontem, o O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), junto ao jornalista Paulo Figueiredo, rebateu as declarações do ministro da Fazenda sobre o cancelamento da reunião. “Haddad prefere culpar terceiros pela própria incompetência, enquanto Lula só fala besteira por aí e inflama a crise diplomática. Há quase duas semanas, o presidente Donald Trump declarou emergência econômica nos EUA, apresentando de forma clara as razões. Até que o Brasil enfrente esses pontos, qualquer reunião será mera encenação – e, portanto, inútil”, escreveu Figueiredo em sua página no X.

O jornalista disse que ele e Eduardo não têm qualquer influência sobre a agenda do secretário do Tesouro. Eles desembarcarão em Washington amanhã para “uma série de reuniões com autoridades americanas”. “Talvez Lula também as tivesse se, em vez de proteger o próprio regime e fazer bravata ideológica, colocasse a diplomacia e o interesse nacional em primeiro lugar”, completou. (Agência Brasil e Metrópoles)