Entrevista >> Daniel Rodrigues

Publicação: 10/08/2012 03:00

 (JÚLIO JACOBINA/DP/D.A PRESS)

"Há um desequilíbrio social"

Como o senhor vê esses conflitos trabalhistas em Suape?
Esses conflitos podem ser vistos de várias formas. Uma delas é que existe um boom econômico em Pernambuco e que os trabalhadores, como vem ocorrendo em vários lugares do mundo, estão sendo tratados não como sujeitos, mas como objetos de lucros. Há um deslocamento enorme de força de trabalho e não há um deslocamento do seu ambiente social. Esses trabalhadores ficam longe de suas famílias. Não há escolas, cinemas. A única diversão é o bar e a prostituição. Então há um desequilíbrio social.

Então não é um problema apenas de remuneração?

Não. O custo do trabalho ainda é pequeno diante do lucro que as empresas têm e sempre existiu o arroxo salarial. O PIB cresce mas a massa de salários não cresce. A questão é que muitos sindicatos são criados pelo incentivo patronal porque esses trabalhadores, por serem temporários, não criam raízes. E os sindicatos estão preocupados mais em aumentar suas bases do que perseguir a transformação social. Mas, de uma maneira geral, fala-se muito na grande quantidade de capital que essas obras geram e não se percebe a desagregação social que se cria no entorno delas por causa do deslocamento de milhares de pessoas. Esse fato em si já impede que haja uma tradição sindical e de luta.

A reação violenta que houve seria uma consequência disso?

Sim. Esses trabalhadores estão criando novas formas de luta muito intuitivas, com muita espontaneidade, como jogar pedras e incendiar. Eles têm consciência de que estão construindo as riquezas desse país e de que podem melhorar seus salários. Mais do que rechaçar essas ações, temos que perguntar qual o preço social que se paga por esse modus operandi da construção civil. A história vai consolidar essas lutas.