Competência é o pré-requisito Não importa se antes a vaga de emprego era para homem ou mulher. Na hotelaria, velhos tabus ficam para trás

Juliana Cavalcanti
julianacavalcanti.pe@dabr.com.br

Publicação: 02/02/2014 03:00

Carlos Henrique Bezerra, 23, foi promovido de auxiliar de limpeza a camareiro há três meses (ANNACLARICE ALMEIDA/DP/D.A PRESS)
Carlos Henrique Bezerra, 23, foi promovido de auxiliar de limpeza a camareiro há três meses

Escolher um profissional para determinadas funções levando em consideração o gênero é algo que está ficando pra trás em vários setores, inclusive no ramo de hotelaria. Apesar de parecer inusitado falar de um camareiro, ou de uma eletricista, esta é a realidade do mercado de trabalho atualmente e não há mais surpresa ao reparar que o empregador prioriza ocupar seus postos de trabalho por pessoas qualificadas, independentemente de serem homens ou mulheres.

Quando Carlos Henrique Bezerra, de 23 anos, demonstrou o desejo de ser camareiro no hotel em que trabalha, em Boa Viagem, a primeira iniciativa foi treiná-lo e a segunda foi adequar o uniforme. Desde então, há três meses, ele vem executando a função com qualidade, do mesmo modo que as demais camareiras. “É o meu primeiro emprego com carteira assinada. Eu fazia serviços gerais e soube que tinha uma vaga para camareira. Então perguntei se eu poderia me candidatar e fui aceito. Não sinto preconceito”, conta o profissional, que num dia de trabalho limpa e arruma até 12 apartamentos.

Sua colega de trabalho, Silvânia Joaquim da Silva, mais experiente na função, não vê problemas em ter um homem arrumando os quartos, embora normalmente a função seja associada ao mundo feminino. “O homem e a mulher podem fazer. Não acho que tenha essa diferença não”, diz.
A maior parte dos cargos de liderança estratégica é exercida por mulheres%u201D, diz a gerente-geral do Mar Hotel, Andréia Misael (ANNACLARICE ALMEIDA/DP/D.A PRESS)
A maior parte dos cargos de liderança estratégica é exercida por mulheres%u201D, diz a gerente-geral do Mar Hotel, Andréia Misael

Proprietário do Cult Hotel, José Otávio Meira Lins concorda com a funcionária. “Hoje em dia você tem que ser qualificado. Ainda não temos nenhuma mulher na área de manutenção, mas acho que não existe mais isso de diferenciar o que é atividade de homem e de mulher”, considera.

Há 17 anos trabalhando no ramo de hotelaria, a gerente-geral do Mar Hotel Conventions, Andréia Misael, lembra que já houve um tempo em que as mulheres só exerciam funções de gestão como governantas executivas e gerentes de recepção. “Hoje em dia a maior parte dos cargos de liderança estratégica do hotel é exercida por mulheres, numa proporção de quatro mulheres para três homens.”

O gerente de marketing Sérgio Paraíso exemplifica com o seu setor. “Dos 44 profissionais, apenas dois são homens, nos vários estados onde atuamos. Há 25 anos, todos eram homens. As mulheres vêm ocupando esse espaço e para algumas funções não encontramos mais homens interessados, acredito que pela mudança de perfil profissional proporcionada pelo crescimento de Suape”, completa.

Cozinheiras
Um dos setores do hotel onde tem crescido a presença de mulheres num ambiente antes ocupado predominantemente por homens é a cozinha. “Há três anos, só tínhamos duas mulheres na equipe: a tapioqueira e a folguista dela. Hoje, entre 30 pessoas, 10 são mulheres”, diz o chef Mazinho, do Mar Hotel Convention. Entre os fatores que influenciaram a mudança, ele atribui a falta de interesse dos homens nas funções, um maior interesse das mulheres e o fim de um certo preconceito que diz que mulheres não carregam peso. Na última seleção, para três vagas, apenas mulheres se candidataram.