Atitude só aos 45 do segundo tempo Perto do final do período chuvoso, autoridades ignoram risco de racionamento e adiam medidas

Publicação: 23/04/2014 03:00

Apesar da crescente insegurança do mercado com o abastecimento nacional de eletricidade, o governo preferiu anunciar medidas corretivas apenas nos 45 minutos do segundo tempo, quando poderá ser tarde demais. Em abril, no derradeiro mês do período chuvoso do Sudeste e Centro-Oeste , os reservatórios das hidrelétricas das duas regiões estão com 37% da sua capacidade, conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O ideal, dizem as próprias autoridades, é entrar na estação seca, a partir de maio, com o nível das representas estarem em, pelo menos, 43%.

Ontem, o diretor geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, minimizou o problema. Segundo ele, o clima úmido ainda não acabou. “Está chovendo. Temos alguns dias pela frente e é preciso aguardar o fechamento de abril para ver o volume de água nos rios, que importa mais do que a chuva, apesar de uma coisa depender da outra. Isso porque quando chove nas cabeceiras leva um tempo para a água fluir e chegar aos reservatórios.”

Rufino destacou que possíveis medidas só serão avaliadas na próxima reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), marcada para a primeira semana de maio. “A não ser que haja alguma convocação extraordinária antes disso”, ressaltou. O diretor da Aneel afirmou, contudo, que o primeiro empréstimo bancário para cobrir os altos custos das distribuidoras em razão da estiagem será de R$ 4,7 bilhões. O valor corresponde a 42% dos R$ 11,2 bilhões que devem ser captados para cobrir gastos extras no setor este ano, reflexo do uso intensivo de termelétricas.

Os analistas consideram as medidas apenas paliativas por não garantirem a redução do consumo, apenas a elevação dos custos, considerando que os empréstimos das distribuidoras serão pagos pelos consumidores, com o aumento da tarifa no ano que vem. Enquanto isso, os reservatórios estão com o segundo nível mais baixo para o período, atrás só de 2001, ano em que houve racionamento de energia no país. (Do Correio Braziliense)