Tecnologia para sair do atraso Empresariado local vem apostando na inovação do parque fabril e qualificação de mão de obra

ROSA FALCÃO
rosafalcao.pe@dabr.com.br

Publicação: 20/04/2014 03:00

 (FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS)
Operfil das novas indústrias que se instalam em Pernambuco movidas pela alta tecnologia e pela inovação acendeu a luz vermelha do empresariado local. Não é para menos. As máquinas modernas, aliada à automação dos processos produtivos, se confrontam com parques fabris defasados, montados há mais de 30 anos. Para não ficar para trás, alguns segmentos empresariais investem em equipamentos e contratam mão de obra qualificada fora do país, para enfrentar a concorrência e, claro, ofertar produtos de qualidade. Esta é a aposta da ConcrEpoxI Artefatos, empresa derivada da Concrepoxi Engenharia, há 33 anos no mercado.
No galpão de 3 mil metros quadrados, localizado no território do condomínio Cone Suape, em Jaboatão dos Guararapes, o espanhol Alberto Cañizares, 27 anos, opera solitário, de uma sala de controle, uma máquina gigantesca e barulhenta. A vibra prensa é o equipamento mais moderno que processa blocos de concreto com a tecnologia europeia de dupla prensa.
Importada da Europa, a máquina é o coração da fábrica, cuja produção é 100% automatizada.

A opção pela tecnologia de ponta no processo produtivo exigiu o investimento de R$ 15 milhões na instalação da fábrica. A área escolhida é estratégica. Pelo planejamento do condomínio, lá ficará localizado o “cluster” de concreto. São empresas que fornecerão placas e pisos de concreto para as novas indústrias que chegam ao Porto de Suape. “Desde que a máquina é alimentada com o insumo básico até a saída do produto, todo o circuito é controlado no computador por uma única pessoa”, diz a diretora-executiva da ConcrEpoxI, Renata Gaudêncio.

No local são produzidos blocos de concreto e pavimentos de alta resistência colocados no mercado interno. Formada em arquitetura, Renata explica que a ideia é aliar a resistência do concreto ao trabalho artesanal das peças. Uma linha especial destinada à urbanização de praças, pisos e meio-fio é o piso exclusivo paver vitae, produzido com base no livro Tramas, do arquiteto pernambucano Vital Pessoa de Melo. Com um único trapézio, são montadas tramas de diferentes cores. A encomenda mais recente foi feita pelo hotel Sheraton da Reserva do Paiva, que vai estrear o piso com tecnologia europeia.

 (FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS)
Alta taxa de desemprego juvenil, falta de oportunidades, desolação. O clima do incertezas na Europa foi definitivo para o espanhol Alberto Cañizares mudar para Pernambuco. Natural da cidade de Granada, ele conhece o chão de fábrica pelas mãos do pai. Estava desempregado quando recebeu o convite para trabalhar no Brasil. Cañizares tem curso técnico e foi indicado pelo fabricante para operar a máquina europeia em Pernambuco. Gosta do clima, da praia, mas ainda não se adaptou ao tempero pernambucano e, claro, reclama da falta de mobilidade.

A contratação de Cañizares demorou quase um ano por conta da burocracia com o visto de estrangeiro. O contrato de trabalho é de dois anos e pode ser renovado por igual período. “O nosso maior desafio para montar uma fábrica automatizada é a mão de obra qualificada.
Optamos por trazer alguém de fora com experiência, para se transformar no agente multiplicador”, diz Renata. E completa: “Ele passa para todos a visão de ser multidisciplinar e o espírito de equipe e de absorver o máximo de atividades na fábrica”.

O pernambucano Lucas Silva Santos, 25 anos, tem o ensino médio completo. Entrou na Concrepoxi Engenharia como servente de obra. Agora foi transferido para a nova fábrica do grupo para operar a empilhadeira e ser capacitado. Está sendo treinado pelo espanhol. “Aqui a fábrica é mais moderna e usa a tecnologia de fora. É uma forma de crescer profissionalmente”. Lucas cursa espanhol para se comunicar com o companheiro de batente. “Meus planos para o futuro é aprender a operar esta máquina”.