O nó dos voos dentro do Nordeste Com justificativa de baixa rentabilidade, alguns trechos entre cidades na região estão sendo extintos e o consumidor é quem sai perdendo

ANDRÉ CLEMENTE
andreclemente.pe@dabr.com.br

Publicação: 24/10/2014 03:00

Fazer algumas viagens de avião pode ser um sofrimento por conta de escalas e conexões provocadas pela falta de oferta de voos diretos em alguns trechos. A justificativa das companhias aéreas para oferecer as voltas no mapa é simples: rentabilidade. É a procura por um serviço que faz a oferta dele surgir e movimentar o setor. Quando a procura é baixa ou zero, não é estranho ver esse produto sumir do mercado. E esse contexto é o mesmo que explica o nó que é a malha aérea brasileira e especialmente a que passa por cima do Nordeste. Quem perde é o consumidor.

Comprar uma passagem de Maceió a Fernando de Noronha, com escala no Recife, por exemplo, não é mais possível. Quem quiser fazer essa viagem terá que adquirir quatro passagens, especificamente para os trechos Maceió – Recife, Recife – Noronha, Noronha – Recife e Recife – Maceió. Vale lembar que voo direto de Maceió para o Recife, dependendo do dia da viagem, só é oferecido por uma operadora, ou seja, sem concorrência, o preço sobe. Se acha que não pode ser pior, a volta para casa dessa viagem pode durar 15 horas apenas no trecho Recife – Maceió. A façanha é sair às 6h10 do Recife e chegar às 21h15 em Maceió, fazendo duas paradas (Salvador e Brasilia). Detalhe: essa saga é uma opção do bilhete “ida e volta” pelo custo de R$ 2.890 (consulta feita no dia 22 de outubro, às 20h30 horário do Recife, para os dias 24 de outubro e volta no dia 27 de outubro).

A rota Recife – Juazeiro do Norte (CE) também foi cancelada por uma operadora. A única companhia que faz o trajeto já avisou que tem validade até 15 de novembro e pegou o dentista Ronald Callou de surpresa. “Quando a primeira deixou de vender o trecho ficou ruim porque, como só tinha uma, o preço cobrado era o que ela quisesse.
Já fui para Juazeiro por R$ 100, mas também paguei R$ 800. Sem o voo, que durava uma hora, a opção é um que tem duração de nove horas, porque vai ter que fazer conexão em São Paulo”, detalhou. “Eu que visitava minha família uma vez por mês, vou ter que repensar a ida. Sete horas de carro, talvez”, cogitou.

De acordo com Adalberto Febeliano, consultor técnico da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que responde pelas companhias aéreas TAM, Gol, Avianca e Azul, a justificativa é a mesma: rentabilidade. “Algumas rotas não se sustentam. Outras têm vida por pouco tempo. É o volume de pessoas que viaja que faz o mercado”, resumiu. “Três fatores fazem os aeroportos regionais movimentarem mais as linhas aéreas, que é o que fomentaria o aeroporto do Recife: mais passageiros, renda e desenvolvimento econômico do entorno, fator em que o Nordeste está crescendo agora.”