Energia cada dia mais cara e rara
Consumidor vai
pagar duas vezes
para enfrentar a
crise do setor elétrico. Custo deve
chegar a R$ 20 bi
somente neste ano
ROSA FALCÃO
rosafalcao.pe@dabr.com.br
Publicação: 25/01/2015 03:00
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Reservatórios registram o pior nível de água. Até a última quinta-feira estavam em 17%, menor que a marca observada em 2001, quando houve o racionamento de energia |
Como chegamos ao fundo do poço? Além da seca dos últimos três anos que esvaziou os reservatórios das hidrelétricas, a chegada da nova classe C emergente puxou para cima o consumo de energia. Novos aparelhos eletrônicos, ar-condicionado, máquina de lavar, computadores, micro-ondas, foram plugados às tomadas. Para adicionar mais fermento ao bolo, o calor mais intenso em 2014 e no primeiro mês do ano o consumo elevou a demanda de energia à carga máxima.
Se o quadro hídrico piorar, é possível que o consumidor tenha que fazer escolhas. Desligar o ar-condicionado ou a geladeira? A provocação do especialista em energia André Crisafulli, presidente da Andrade & Canelas, consultoria do setor energético, pode soar como exagero, mas a situação é grave. “Estamos operando no limite. Os reservatórios estão baixos e as usinas que poderiam despachar mais energia estão no Sudeste, onde não está chovendo. A demanda tem que ser reduzida imediatamente entre 5% e 10% ”, alerta.
Segundo Crisafulli já estamos vivendo um “racionamento branco”. Explicando melhor: com o aumento do consumo de energia nos grandes centros urbanos, o horário de pico foi antecipado entre 14 horas e 15 horas. Para suprir as necessidades de geração hidrelétrica, o governo acionou as térmicas. Como a complementação de energia é insuficiente para suprir a demanda, a saída é desligar o sistema para evitar danos maiores aos equipamentos e geradores. “Podemos ter outras paradas na transmissão para evitar oscilações na rede e maiores prejuízos”. São os apagões que vêm ocorrendo no Sudeste e Centro-Oeste do país.
O “efeito bolso” poderá forçar o consumidor diminuir o consumo de energia. A conta de luz já ficou mais cara em janeiro com o sistema de bandeiras tarifárias. Estamos pagando R$ 3 a mais quando o consumo passar de 100 kWh na bandeira vermelha. Tem mais. Vem por aí o reajuste extraordinário em fevereiro, para pagar a conta das distribuidoras, com a entrada em operação das termelétricas. Sem contar com a revisão tarifária anual. O tarifaço poderá chegar a R$ 20 bilhões neste ano, pagos pelos brasileiros.
Conceição Cavalcanti, diretora da C&T Assessoria e Gestão de Energia, diz que o custo da energia é alto no Brasil porque a priorização do uso das térmicas a diesel para socorrer a hidráulica, encarece o preço da tarifa. “Se a matriz energética for diversificada com outras fontes complementares, como a eólica, a solar e a nuclear, o custo não seria tão elevado. A Europa tem a metade do custo do Brasil”. E completa: “Vamos pagar a conta e vai ser pesado. Sem contar que tem o efeito dominó . Sai quebrando várias cadeias.”
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À espera do racionamento