Energia cada dia mais cara e rara Consumidor vai pagar duas vezes para enfrentar a crise do setor elétrico. Custo deve chegar a R$ 20 bi somente neste ano

ROSA FALCÃO
rosafalcao.pe@dabr.com.br

Publicação: 25/01/2015 03:00

Reservatórios registram o pior nível de água. Até a última quinta-feira estavam em 17%, menor que a marca observada em 2001, quando houve o racionamento de energia (GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS - 22/07/14)
Reservatórios registram o pior nível de água. Até a última quinta-feira estavam em 17%, menor que a marca observada em 2001, quando houve o racionamento de energia
Só com a ajuda de São Pedro e a boa vontade de Deus, o país se livrará de um novo racionamento de energia. É com isto que conta o governo ao apostar que “Deus é brasileiro” e vai chover nos próximos três meses, para encher os reservatórios das usinas hidrelétricas. Ironia à parte, o certo é que o consumidor vai pagar em dobro a conta da crise do setor elétrico. Primeiro: com o aumento médio de 30% na conta de luz neste ano. Segundo: desligando os aparelhos elétricos para economizar energia. A contradição é que o brasileiro já arca com a tarifa de energia mais cara do mundo. Em contrapartida, tem baixa qualidade do serviço e sofre com os “apagões” e “apaguinhos”, prenúncios de um novo racionamento de energia.

Como chegamos ao fundo do poço? Além da seca dos últimos três anos que esvaziou os reservatórios das hidrelétricas, a chegada da nova classe C emergente puxou para cima o consumo de energia. Novos aparelhos eletrônicos, ar-condicionado, máquina de lavar, computadores, micro-ondas, foram plugados às tomadas. Para adicionar mais fermento ao bolo, o calor mais intenso em 2014 e no primeiro mês do ano o consumo elevou a demanda de energia à carga máxima.

Se o quadro hídrico piorar, é possível que o consumidor tenha que fazer escolhas. Desligar o ar-condicionado ou a geladeira? A provocação do especialista em energia André Crisafulli, presidente da Andrade & Canelas, consultoria do setor energético, pode soar como exagero, mas a situação é grave. “Estamos operando no limite. Os reservatórios estão baixos e as usinas que poderiam despachar mais energia estão no Sudeste, onde não está chovendo. A demanda tem que ser reduzida imediatamente entre 5% e 10% ”, alerta.

Segundo Crisafulli já estamos vivendo um “racionamento branco”. Explicando melhor: com o aumento do consumo de energia nos grandes centros urbanos, o horário de pico foi antecipado entre 14 horas e 15 horas. Para suprir as necessidades de geração hidrelétrica, o governo acionou as térmicas. Como a complementação de energia é insuficiente para suprir a demanda, a saída é desligar o sistema para evitar danos maiores aos equipamentos e geradores. “Podemos ter outras paradas na transmissão para evitar oscilações na rede e maiores prejuízos”. São os apagões que vêm ocorrendo no Sudeste e Centro-Oeste do país.

O “efeito bolso” poderá forçar o consumidor diminuir o consumo de energia. A conta de luz já ficou mais cara em janeiro com o sistema de bandeiras tarifárias. Estamos pagando R$ 3 a mais quando o consumo passar de 100 kWh na bandeira vermelha. Tem mais. Vem por aí o reajuste extraordinário em fevereiro, para pagar a conta das distribuidoras, com a entrada em operação das termelétricas. Sem contar com a revisão tarifária anual. O tarifaço poderá chegar a R$ 20 bilhões neste ano, pagos pelos brasileiros.

Conceição Cavalcanti, diretora da C&T Assessoria e Gestão de Energia, diz que o custo da energia é alto no Brasil porque a priorização do uso das térmicas a diesel para socorrer a hidráulica, encarece o preço da tarifa. “Se a matriz energética for diversificada com outras fontes complementares, como a eólica, a solar e a nuclear, o custo não seria tão elevado. A Europa tem a metade do custo do Brasil”. E completa: “Vamos pagar a conta e vai ser pesado. Sem contar que tem o efeito dominó . Sai quebrando várias cadeias.”