Um círculo vicioso de perda de emprego e renda Pnad Contínua mostra que taxa de desemprego foi de 11,6% no trimestre encerrado em julho, um recorde

Publicação: 31/08/2016 03:00

Quase 440 mil pessoas entraram na fila do desemprego no último trimestre no país (Paulo Paiva/DP - 15/09/15)
Quase 440 mil pessoas entraram na fila do desemprego no último trimestre no país

Rio – O mercado de trabalho do país vive um “circulo vicioso”, com perda do poder de compra, queda da população ocupada, do trabalho com carteira assinada e em uma situação de estagnação onde nem mesmo o mercado informal consegue mais absorver os trabalhadores que perderam emprego. A percepção é do coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo, ao comentar os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua). Divulgados ontem, os dados indicam que, no trimestre encerrado em julho, a taxa de desocupação chegou a 11,6% – a maior da série histórica iniciada em 2012.

No trimestre encerrado em julho, 11,85 milhões de pessoas procuraram emprego, sem encontrar. Um aumento de 3,8% frente ao trimestre imediatamente anterior. São 436 mil pessoas a mais. Na comparação com o mesmo período do ano passado, esse crescimento é ainda maior: 37,4%, o que representa 3,22 milhões de pessoas a mais na fila de emprego. Na avaliação de Cimar Azevedo, os números da Pnad Contínua de maio, junho e julho refletem o “cenário econômico conturbado” vivido pelo país e os “seus reflexos no mercado de trabalho”.

“O mercado de trabalho brasileiro está em pleno círculo vicioso, com perda do poder de compra, queda na população ocupada – com grupamentos importantes apresentado redução em seu contingente de trabalhadores – e da qualidade do emprego –, que se reflete no número de pessoas trabalhando com carteira assinada, que recuou quatro anos atrás”, afirmou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Em sua análise dos números da Pnad Contínua, Cimar Azeredo ressalta o fato de que a população ocupada, que fechou o trimestre em 90,5 milhões de pessoas, voltou ao nível do primeiro trimestre de 2013, o mesmo acontecendo com o rendimento médio real habitualmente recebido pelo trabalhador, que encerrou julho em R$ 1.985 – uma queda de 3% em relação aos R$ 2.048 pagos no mesmo trimestre do ano anterior. “Os dados não são favoráveis. Fogem a comportamentos sazonais conhecidos. O rendimento continua em queda, grupamentos de atividades, como a indústria, continuam a apresentar redução expressiva e está menor em relação ao ano passado em cerca de 1,3 milhão de postos de trabalho”, disse.

Futuro
Os sinais de que o pior momento da crise ficou para trás não chegaram ainda ao mercado de trabalho. Segundo economistas, o desemprego deve continuar crescendo até meados do ano que vem. Para Igor Velecico, economista do departamento de pesquisa do Bradesco, o ritmo de demissões no mercado deve ser menor no segundo semestre deste ano, mas a recuperação ainda vai demorar. “O mercado de trabalho reage com um a dois trimestres de defasagem a uma melhora na atividade econômica. Então só devemos ver uma queda da taxa de desemprego na metade de 2017”, disse o economista.