Uma farmácia a cada esquina Concorrência entre as grandes redes aumenta no estado. Briga pode ser boa para o consumidor que está disposto a pesquisar e sair ganhando no bolso

THATIANA PIMENTEL
thatianapimentel.pe@dabr.com.br

Publicação: 01/10/2016 03:00

As farmácias Bongi, Permanente, Big Ben, Pague Menos e do Trabalhador se encadeiam em uma área de menos de 100 metros quadrados na Avenida Caxangá. Já na Rosa e Silva, são a Bongi, Pague Menos e Permanente que dividem o mesmo espaço. A briga lado a lado pela preferência do consumidor se repete nas avenidas Guararapes e Domingos Ferreira, no Largo da Encruzilhada e em praticamente todas as grandes vias do Recife. O cenário tem como protagonistas as grandes redes nacionais e a disputa promete continuar acirrada. Só neste ano 80 unidades delas foram inauguradas na capital. Com um saldo total de 3.636 farmácias, o estado já tem uma média de uma unidade para 2,5 mil habitantes, concentração maior que a nacional, que é de uma para cada 2,7 mil. Ainda teremos outras 30 lojas até dezembro. Mas, afinal, tanta concorrência favorece o consumidor?

A resposta é sim, para quem estiver disposto a pesquisar. A última pesquisa do Procon Pernambuco sobre os preços praticadas nas redes farmacêuticas locais, divulgada em agosto, aporta uma diferença de preços de até 324,8%. Logo, quem estiver disposto a economizar precisa mesmo fazer comparações. Até unidades da mesma marca apresentam variações para o mesmo produto. “A concorrência propicia preços mais baixos, melhor atendimento e esforços maiores de fidelização. Mas, para que exista uma economia real, o consumidor precisa pesquisar, seja pessoalmente ou na internet e barganhar, mostrando preços menores praticados por concorrentes e conseguindo descontos”, afirma o professor de economia da Faculdade dos Guararapes Roberto Ferreira.

Alessandro da Silva é um bom exemplo de consumidor que está ganhando com essa “enxurrada”. O soldador economiza até 30% do orçamento dos remédios da família comparando os preços praticados em um mesmo quarteirão. “O que define minha compra é o preço. Com mais farmácias, percebo que as lojas entram numa guerra de descontos e acabo ganhando”, reforça.

Já Ana Maria Guedes, professora, decide sua compra pelo estoque. “Antes, a gente aferia pressão, a temperatura, resolvia pequenas emergências na farmácia, agora não existe mais nenhum serviço de graça, então o atendimento não decide mais a fidelidade. No meu caso, quando encontro uma farmácia que tenha os remédios que preciso fico fiel”, diz.

Para Ozeias Gomes, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos (Sincofarma-PE), a escolha do Nordeste como foco vai intensificar ainda mais a concorrência nos próximos anos, uma vez que o mercado farmacêutico do Sul e Sudeste já está saturado. “Temos aqui condições propícias ao crescimento das redes com epidemias que têm assolado a região como a dengue, somado à dificuldade do Sistema Único de Saúde (SUS) em fornecer medicamentos”. Forma um cenário atrativo.”

A preocupação de Gomes é com a sobrevivência das farmácias independentes, que representam 70% do mercado local. “A tendência neste setor é que ocorra o mesmo que aconteceu com as mercearias no passado. Os grandes mercados surgiram e as pequenas ‘barracas’ sumiram”, diz. Roberto Ferreira ressalta que o mercado pode ficar difícil, caso as marcas menores acabem nas mãos de um mesmo grupo, mesmo com bandeiras diferentes, eliminando a diferença de preços.