Um exército de 22 milhões de trabalhadores subutilizados Além dos 12 milhões de desempregados, 10 milhões de pessoas trabalham menos do que gostariam ou não procuram vagas

ROSA FALCÃO
rosafalcao.pe@dabr.com.br

Publicação: 23/11/2016 03:00

Odesemprego que atinge 12 milhões de brasileiros não é a pior chaga da crise econômica que atravessa o país. Além dos desocupados, existe um contingente de 10 milhões de pessoas com capacidade produtiva fora da força de trabalho. Somando os dois grupos são 22 milhões de homens, mulheres e jovens privados de trabalho e de renda. Em Pernambuco há 1,157 milhão de pessoas subocupadas, seja pelo aumento da desocupação, por insuficiência de horas trabalhadas ou por dificuldade de conseguir ocupação na mesma área profissional.
Pela primeira vez o IBGE abriu os dados da Pnad Contínua para mostrar a subutilização da força de trabalho. Com a nova medição é possível identificar que existem 4 milhões de ocupados com carga horária de menos de 40 horas semanais – e que gostariam de trabalhar mais – e 6 milhões de pessoas fora da força de trabalho por vários motivos, além dos 12 milhões de desempregados. Um quadro mais real dos efeitos perversos da crise econômica no mercado de trabalho. A taxa composta de subutilização da força de trabalho totalizou 21,2% no terceiro trimestre de 2016 no país, contra 18% em 2015.
“São pessoas que têm potencial de trabalhar e não conseguem emprego”, comenta Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE. Ele cita como exemplo as mulheres que deixaram de trabalhar porque não têm creche para deixar os filhos ou que precisam ficar em casa para cuidar de um idoso. Ou jovens desestimulados que deixam de procurar emprego porque acham que não vão conseguir colocação. Há quem não encontra ocupação na área profissional e as pessoas que deixaram de trabalhar para estudar para concurso público.
A subocupação da força de trabalho atinge mais as regiões do Norte e do Nordeste, onde se encontram as taxas mais elevadas de pessoas fora da força de trabalho, de 23,9% e 31,4%, respectivamente. No Sul, a subutilização é menor, mas a taxa aumentou para 13,2% no terceiro trimestre de 2015. O técnico do IBGE aponta a alta informalidade, o baixo desempenho da indústria na economia e a mão de obra menos escolarizada como fatores que contribuem para as altas taxas de subocupações nas duas regiões. Pernambuco tem a taxa total de subocupação de 26,9%, a segunda maior da Região. A Bahia lidera, com 34,1%.
Azeredo destaca que as mulheres e os jovens são os mais atingidos pela subutilização da força de trabalho. No Brasil, as mulheres representam 25,3% desse contingente, contra 17,9% dos homens. Em Pernambuco, a participação cresce para 30,8% (mulheres) e 24% (homens). Os dados demonstram que as mulheres são mais alijadas do mercado de trabalho tanto por fatores familiares quanto pela discriminação de gênero. Os jovens nas faixas etárias entre 18 e 24 anos (27%) e 25 e 39 anos (34,2%) também aparecem com peso expressivo;
Em tempos de reforma da Previdência, com propostas de aumento da idade mínima de aposentadoria, os dados do IBGE são preocupantes porque mostram a baixa inclusão previdenciária das pessoas fora da força de trabalho. No Brasil, 65% dos trabalhadores subutilizados contribuem para a previdência, contra 34,5% que não contribuem. Em Pernambuco a situação se inverte, com 54,8% e 45,2%, respectivamente.