Um aeroporto comercial para Caruaru Cidade de porte médio não opera voos comercias por falta de infraestrutura do Oscar Laranjeiras, que, no passado, recebia aeronaves de maior porte

ANDRÉ CLEMENTE
andre.clemente@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 11/02/2017 09:00


Caruaru tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco fora da Região Metropolitana do Recife (RMR). É o quinto produtor de riquezas do estado. Centraliza o polo têxtil do Agreste, tem um parque industrial consolidado e ainda roda a sua economia nos segmentos de comércio e serviços. Mas tem uma pendência travada que seria um impulso ainda maior para a economia da cidade. O que justifica o aeroporto local, o Oscar de Laranjeiras, não voltar a operar voos comerciais? Com porte semelhante a cidades como Campina Grande (PB) e maior que Paulo Afonso (BA), esse potencial real já abriu os olhos de companhias aéreas interessadas em aeroportos regionais e o setor público agora corre para tentar atender o básico de infraestrutura para que esse modal logístico e turístico se torne sustentável e não passe batido aos olhos do setor privado.

Para se ter ideia, o aeroporto realiza 300 operações mensais de voos particulares e não arrecada R$ 1 sequer dessa movimentação. Segundo a própria administração, justamente porque não atende os requisitos básicos exigidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para poder cobrar. Esse marasmo já provocou mobilização social, com a criação de página em rede social, pedindo atenção para o equipamento.

Na cidade, o aeroporto é de responsabilidade da Autarquia Municipal de Defesa Social, Trânsito e Transportes (Destra). A primeira avaliação da gestão da recém-empossada prefeita Raquel Lyra (PSDB) é de que a infraestrutura precisa ser melhorada rapidamente para poder tarifar as operações atuais. De acordo com o diretor presidente da Destra, Hermes Melo, intervenções básicas de cercamento, construção de placas de concreto e adaptações na iluminação são essenciais.

“Temos problemas de cercamento e faltam placas de concreto que garantam mais segurança às estruturas no local. A pista tem qualidade, mas esse cenário não nos coloca em um nível que a Anac considera pronto para operar voos comerciais, nem tarifar os fretados atuais. São mais de 300 operações mensais sem custo para os usuários porque não estamos no nível exigido para cobrar”, destacou Melo.

Segundo ele, há 22 hangares explorados, escola de avião, garagem, oficina, mas nada disso gera dinheiro. “Só despesas”, resume. “Vamos regularizar esse processo para que a ocupação gere receita. Se for o caso, judicialmente. É essa receita que pode mobilizar os primeiros investimentos, os primeiros ajustes. A prefeitura entende que o aeroporto é viável economicamente e vai perseguir esse objetivo”, garantiu.

De acordo com a Anac, a Resolução nº 392/2016, de 6 de setembro de 2016, estabeleceu regime tarifário diferenciado a ser aplicado aos aeródromos públicos delegados aos estados e municípios por meio de convênio com a Secretaria de Aviação Civil, entre os quais inclui-se o Oscar Laranjeira. Desde então, os valores das tarifas aeroportuárias de embarque, conexão, pouso, permanência, armazenagem e capatazia da carga importada e a ser exportada deverão ser estabelecidos pelos delegatários dos aeródromos, respeitando critérios de tarifa, regras de reajuste e prazos para vigência.

Com a entrada em vigor da resolução, em 9 de novembro de 2016, a determinação dos valores das tarifas aplicáveis aos aeródromos conveniados passa a ser uma responsabilidade do próprio delegatário do aeródromo (o poder público local, responsável pela assinatura do convênio) – no caso, o estado de Pernambuco.

Movimentação nas redes sociais

A situação do Aeroporto de Caruaru frusta o imaginário da população da cidade, que já viu a pista movimentada anos atrás. A inquietação provocou a criação de uma página na rede social Facebook, que se tornou um depósito de lembranças, memórias e um pleito em tom de esperança de ver o táxi de aeronaves comerciais voltarem por lá. Chamada de “Aeroporto de Caruaru”, a página foi criada por entusiastas da aviação como forma de desenvolvimento, com o propósito de passar informações e discussões sobre o Oscar Laranjeiras e de sua reestruturação.

Willian Eduardo do Nascimento é o administrador da página. Ele coordena enquetes, discussões e questionamentos da população. “Como admirador da aviação e também da minha cidade, sempre me senti indignado com esse descaso do aeroporto. Após reunir informações sobre ele e as companhias aéreas interessadas, resolvi criar a página com o intuito de unir a população e cobrar dos governantes investimentos. E desde a criação, as pessoas contribuem com imagens, informações e comentários, para que o aeroporto não fique no esquecimento”, destaca.

A página já ultrapassou 1.600 curtidas em um mês de criação e ganhou apoios importantes. Outras páginas de Caruaru na rede curtiram a ideia e estão sempre compartilhando as postagens, ampliando o alcance do movimento em prol do aeroporto. “Temos uma região com alta demanda de passageiros e um bom equipamento, que precisa apenas de alguns investimentos para oferecer condições às empresas aéreas, que sempre demonstraram interesse, mas esbarram na falta de infraestrutura. E já que o estado não investe no equipamento, a única e melhor alternativa seria repassar a estrutura para a iniciativa privada, que ficaria responsável por tais investimentos, criando assim uma estrutura básica que atendesse os requisitos das empresas aéreas”.

Os fatos em torno do aeroporto
  • O Aeroporto Oscar Laranjeira, também conhecido como Aeroporto de Caruaru, foi inaugurado em 1944, então batizado de aeroclube de Caruaru.
  • Por muitos tempo, o aeroporto realizou o famoso “voo do forró”, que trazia e levava passageiros em comemoração aos períodos juninos.
  • O então governador Jarbas Vasconcelos era usuário do voo do forró, no qual viajou inclusive na inaguração da reforma, em 1999. A pista foi ampliada de 1,2 mil metros para 1,8 mil metros e ganhou balizamento, que permitia voos noturnos
  • A BRA Transportes Aéreos realizou voos comerciais no aeroporto em 2006 e 2007, mas as operações foram canceladas quando a empresa entrou em falência
  • No dia 14 de junho de 2010, recomeçou o movimento regular, com a entrada em operação da Noar Linhas Aéreas. A Gol incluiu Caruaru na sua malha, operando através de acordo com a Noar
  • Em 2011, a Noar encerrou as atividades por conta da queda de um avião da empresa, em Boa Viagem, no Recife.
  • O aeroporto é um dos 9 do estado incluídos no PDAR – Plano de Desenvolvimento da Aviação Regional
  • Atualmente, o local funciona com operação de cerca de 300 voos fretados (privados) e não cobra tarifa pelo uso
  • No dia 3 de janeiro deste ano o governo do estado informou a representantes da Azul Linhas Aéreas que os aeroportos de Araripina, Caruaru e Garanhuns estão na lista para receber melhorias em 2017
Incidentes
  • Em junho de 2000, um Fokker 100 da TAM (primeiro voo não fretado) afundou no piso do pátio das aeronaves. O piso cedeu com o peso, devido à existência de um lençol freático sob o lado esquerdo da pista de estacionamento. Os passageiros esperaram mais de uma hora para desembarcar
  • Em fevereiro de 2002, o piso do pátio não suportou o peso do Boeing 737-300 da BRA Transportes Aéreos e cedeu, frustrando os 41 passageiros que fariam o primeiro voo comercial sem escalas entre Caruaru e São Paulo.