Observatório econômico

André Matos Magalhães *
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Publicação: 01/07/2017 03:00

Economia não é escudo

Escrevi recentemente nessa coluna que considerava que o governo federal estava na direção correta no plano econômico. Ainda tenho a mesma opinião. O problema é que economia não é tudo, apesar de ser importante. A vida numa democracia pressupõe, e necessita, da convivência com a política. A economia indo mal afeta negativamente qualquer governo. Ela indo bem, o governante pode quase tudo, quase.

Na semana passada o governo federal fez anúncios variados na área econômica, uns bons, outros nem tanto. Um dos pontos bons foi a definição, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de uma redução da meta de inflação: 4,25% em 2019 e 4% em 2020. Atualmente a meta é de 4,5% ao ano. Quatro e meio por cento pode parecer pouco, dado o histórico de inflação no Brasil, mas não é. Países desenvolvidos têm metas próximas a 2% ao ano e, países com economias semelhantes a do Brasil têm metas de 3% ao ano. A redução da meta tende a ser um passo importante para aproximar o Brasil do resto do mundo.

Por outro lado, um anúncio nada bom para o contribuinte foi o de que talvez seja necessário elevar tributos para aumentar a arrecadação. Eu posso estar errado, mas entendo esse “talvez” como um aviso do tipo “o gato subiu no telhado”. O problema é que o déficit fiscal pode ser maior do que o previsto. A economia ainda está patinando e a arrecadação não está crescendo como esperado. Ao mesmo tempo, os gastos do governo não param de crescer. A incapacidade de cumprir o déficit prometido foi um dos argumentos utilizados para o impeachment da presidente Dilma. O governo atual não está querendo correr esse risco.

Essas ações, e outras que estão sendo propostas, refletem a tentativa de fazer a economia voltar a crescer. Esse é um dos pontos principais na agenda do país. Estamos ficando cada dia mais pobres. Precisamos interromper esse processo. A agenda de médio e longo prazo do governo também é importante para que o crescimento seja sustentável. As reformas trabalhista e previdenciária precisam avançar. No caso da reforma da Previdência a situação é mais grave. Dado o seu peso no orçamento, caso nada seja feito, a Lei do Teto dos Gastos implicará em restrições fortes para os gastos públicos.

Escrevi recentemente nessa coluna que considerava que o governo federal estava na direção correta no plano econômico. Ainda tenho a mesma opinião. O problema é que economia não é tudo, apesar de ser importante. A vida numa democracia pressupõe, e necessita, da convivência com a política. A economia indo mal afeta negativamente qualquer governo. Ela indo bem, o governante pode quase tudo. Quase! Mas, quando a política vai mal, todos somos afetados negativamente.

O governo atual trouxe esperança de mudanças. Do lado econômico elas vieram. Do lado político, todavia, as coisas não mudaram. Eu não esperava que a corrupção fosse acabar, mas, a situação ficou politicamente tão ruim, e tão rápido, que é difícil imaginar que o atual presidente reúna condições reais de governar o país. Pior, ele pode arrastar uma crise política por meses e inviabilizar as importantes reformas econômicas. A economia não pode ser usada como escudo ou desculpa para manter alguém no poder e não deveria sofrer com as atitudes não republicanas dos nossos líderes. É hora de colocar o interesse da população em primeiro lugar.

*  Professor do Departamento de Economia da UFPE.