Inflação de pobre foi menor que a de rico Ipea divulgou, pela primeira vez, indicadores por faixa de renda da população brasileira

Publicação: 17/11/2017 03:00

OInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou ontem um novo índice mensal para medir a inflação por faixa de renda, uma análise inédita no país e que tem por objetivo identificar as diferenças de consumo entre famílias ricas e pobres. O índice foi dividido em uma escala de seis níveis, que vão de uma renda de até R$ 900 (muito baixa) a uma renda maior que R$ 9 mil (muito alta). O Ipea identificou que nos últimos 12 meses encerrados em outubro a inflação das famílias mais pobres (+2%) foi inferior a das famílias mais ricas (+3,5%). O motivo foi a queda no preço dos alimentos, item que mais pesa para a baixa renda junto como aluguel, enquanto as famílias de renda muita alta sentem mais no bolso os gastos com educação e planos de saúde.
“Os consumos são muito diferentes entre essas famílias, e, por consequência, podem ter médias de inflação muito diferentes. Isso pode ser utilizado para várias coisas, como definição de políticas públicas e reajuste salarial mais adequado ao grupo de renda que a pessoa pertence”, segundo o diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Souza Júnior. As famílias com renda mais baixa gastam em alimentação 2,5 vezes a mais do que as de renda mais alta. O custo dos alimentos para uma família pobre chega a 23% da renda, enquanto para uma família rica é de apenas 9% da renda familiar, informou o Ipea. Por outro lado, a educação pesa 8,8% da renda das famílias mais ricas e apenas 2% para as mais pobres. As despesas com serviços de saúde chegam a 6,7% da renda mais alta e 1,4% para a mais baixa.
“Quando você olha as cestas de consumo da categorias, você consegue ver que quando maior é a renda da população, maior é a diversidade de bens e serviços que ela consome. Quanto mais pobre, mais concentrado acabam sendo os itens de consumo”, explicou a técnica de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Maria Andréia Lameiras.
O estudo do Ipea mostrou ainda que nos últimos 11 anos a camada mais pobre da população sofreu com a inflação mais do que os ricos. De julho de 2006 a outubro de 2017, a inflação das famílias de renda muito baixa acumulou alta de 102%, superior à observada na faixa de renda mais alta (+86,3%), e bem acima da inflação oficial medida pelo IPCA (inflação oficial) no período (89,3%).
As famílias de renda baixa foram prejudicadas no período pela alta dos alimentos, puxada pelas carnes (+198%), aves e ovos (+126%), entre outros, enquanto os itens que mais pesam para os ricos ficaram entre as menores variações de preços, como aparelhos de TV, som e informática (-39%) e eletrodomésticos e equipamentos (16,3%). “A inflação mais alta prejudica mais os mais pobres. Esse estudo mostra que penalizam mais os mais pobres, por isso é tão importante ter em mente o controle inflacionário”, disse Maria Andréia. Para 2018, o Ipea prevê aceleração na inflação como um todo por conta da redução de queda no preço dos alimentos. Em meados de dezembro o órgão deverá rever a sua previsão de alta de 4,2% do IPCA (inflação oficial). (AE)