Mão de obra técnica ainda é um dos entraves ao setor

Publicação: 20/01/2018 03:00

A cultura é nova em solo pernambucano e no Nordeste, o que justificaria a pendência de mão de obra qualificada. Mas como a área do campo sofre com falta de trabalhadores, essa carência prejudica o futuro desenvolvimento do setor. A pendência, inclusive, é diferenciada. Não é pelo especialista, mas por um trabalhador para atuar em áreas mais técnicas. “Faltam faculdades e centros de capacitação para colocar no mercado gente que quer trabalhar no campo”, crava o presidente da Agropecuária Bom Leite, Stênio Galvão. A crítica é: “Ou você é médico ou não é nada. Ou é engenheiro ou não é nada. Ou é veterinário ou não é nada.”

Vale para tudo que diz respeito ao setor e ao que extrapola ele, afirma. “Quando tem algo para o campo, é na capital”, reforça. “Sai do Recife para avaliar a vaca doente e não sabe nem onde fica o coração dela. Serve de quê?”, questiona. Segundo ele, tem gente no campo que não tem tempo, aptidão ou interesse em enfrentar uma graduação ou cursos de longa duração em outras cidades, principalmente quando são oferecidos na capital ou nas regiões metropolitanas. “Um peão desse aqui poderia ser pintor, eletricista de veículo, por exemplo. Mas como não chega na universidade, aí não faz nada, nem consegue contribuir para o desenvolvimento da região onde nasceu, cresceu e não quer deixar de morar.  Poderia fazer um curso de gestão agropecuária, de fazenda, algo para o campo. E ele teria orgulho de exercer um cargo para o qual se capacitou. Mas aqui o ‘cara’ ou é veterinário ou não é ninguém”, reforça.

A saída tem sido dirigir caminhão, profissão que deveria receber atenção e não uma opção “quando nada dá certo”. “O rapaz quando não consegue ser nada na vida vai ser motorista de caminhão. Aí nem para essa demanda tem curso. Aí gera uma massa de profissionais que, sem formação, não atuam no potencial que poderiam, o que resulta em uma leva de trabalhadores que não se valorizam como profissionais”, analisa. “Um curso simples, em algo que você consiga colocar em prática, já faz a pessoa vestir a camisa e querer trabalhar. São Bento do Una tem desemprego baixíssimo, mas as posições dos profissionais está trocada, o que gera baixa produtividade, sem amor ao trabalho. Pelo potencial que tem, está ociosa”, completa.

As queixas se estendem. “É a mesma coisa de ter curso de agropecuária só na capital. Eu tenho funcionário que é de curso técnico. Mais de 80% dos veterinários formados na capital não sabem do que ele sabe. Aí o pessoal faz tudo, faz formatura, faz festa e vem aqui e não sabe onde é o coração da vaca”, repete. “Do mesmo jeito que não se sabe manusear um trator, entender do equipamento e poder dar o suporte a ele. Aí engenheiro me atende? Pode atender, mas está lá na capital”, garante.

De acordo com a secretário de Micro e Pequena empresa, Trabalho e Qualificação de Pernambuco, Alexandre Valença, está sendo feito um estudo junto à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sdec), Agência Estadual de Desenvolvimento de Pernambuco (AD Diper) e Sebrae para desenvolvimento de ações em conjunto. “Esse estudo deverá ser concluído até fevereiro e vai possibilitar a definição de estratégias para capacitações e assistências técnicas visando a elevar produtividade, controle e competitividade desses pequenos negócios. A Sempetq e o governo de Pernambuco têm total interesse em oferecer capacitações para a área rural. Entretanto, é preciso diagnosticar muito bem as demandas e personalizar os cursos”, pontuou.