Controle da Rnest colocado à venda Petrobras anunciou que vai tentar negociar comando majoritário da Refinaria Abreu e Lima, como de outras três operações, para setor privado

ANDRÉ CLEMENTE
andre.clemente@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 20/04/2018 09:00

A salvação para concluir a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), no Complexo de Suape, pode vir de um novo plano da Petrobras lançado ontem. A ideia, dentro de um projeto nacional da estatal, é criar novas empresas para comandar dois blocos regionais (Nordeste e Sul), nos quais o governo transfere o controle das operações para o setor privado. A Refinaria de Pernambuco e a da Bahia, juntamente com os 15 dutos de movimentação de produtos e os cinco terminais, serão o bloco do Nordeste, no qual o setor privado terá 60% de participação e a Petrobras, 40%. O mesmo molde será realizado com as refinarias da Região Sul. Agora, a Petrobras trabalha para criar o ambiente atraente para o setor privado entrar, já que sairão dessas empresas os investimentos necessários para concluir os projetos. Calcula-se a necessidade de aproximadamente US$ 1 bilhão para a conclusão da Rnest.

Pelas contas da Petrobras, o modelo transfere para o privado 25% da capacidade de refino do país. Mantendo o controle dos ativos dos blocos do Norte, de São Paulo/Centro-Oeste e do Rio/Minas Gerais, a estatal ficará com 75% da capacidade. De acordo com o gerente-geral de reestruturação de refino, transportes e comercialização da Petrobras, Arlindo Moreira Filho, o molde apresentado do plano de reestruturar a cadeia de refino e produção de derivados do petróleo provoca uma dinâmica competitiva no segmento, o que maximiza as possibilidades de captação de valores.

“O que falta para o setor privado participar é, principalmente, previsibilidade e saber que os blocos serão de controle do privado. Ter a Petrobras como único investidor gera incerteza, por concentrar as decisões. Além de que o conceito do negócio é bom, que é processar petróleo e produzir derivados para vender no mercado brasileiro, um ambiente que tem demanda. O Brasil é importador de derivados”, pontuou.

De acordo com dados da Petrobras, o Brasil é o sétimo maior consumidor de derivados de petróleo do mundo e tem tendência de crescimento de 1,8% ao ano até 2030.

Moreira Filho explica que não se trata de venda de ativos da Petrobras, já que o modelo prevê a criação de novas empresas. “É apenas uma nova composição da estrutura para que o setor privado controle, já que terá maioria do negócio”, reforçou. A Petrobras não divulga a estimativa de valor a ser captado nas transações.

Ainda segundo o gerente do projeto, manter a Petrobras com a maioria do negócio exigiria dela os investimentos, o que pode demorar, já que a estatal está seguindo pelo caminho contrário, o de desinvestir. Além disso, nada está decidido. A etapa de ontem se trata da apresentação do modelo, para que sejam recolhidas as visões para adaptação do modelo de parcerias com o privado.

A refinaria opera hoje na metade da capacidade prevista. São 115 mil barris processados por dia, com a operação do primeiro trem de refino. Inicialmente orçada em US$ 2,5 bilhões, a obra entrou nas investigações da Lava-Jato por ter sido usada para pagamento de propinas em aditivos na obra que elevaram o seu custo para quase US$ 20 bilhões.

Para concluir o segundo trem de refino e operar na capacidade máxima, estima-se a necessidade de mais US$ 1 bilhão. “Se esse plano não for aprovado, não quer dizer que a Petrobras não vai terminar, mas a torcida e o caminho que estamos buscando para o progresso é o de que o setor privado entre nessa parte do circuito”, ponderou.