Um socorro para salvar setor naval Estaleiro Atlântico Sul aproveita visita de ministro para pressioná-lo pela liberação de recursos do BNDES para a construção de novos navios

André Clemente
andre.clemente@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 24/04/2018 09:00

A situação da indústria naval em Pernambuco tem mais um agravante: a burocracia. A dificuldade por novas encomendas se acentua com a lentidão do BNDES, que não libera os financiamentos que já estão aprovados pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM) para os estaleiros tocarem as construções. Sem previsão de pedidos por parte da Petrobras, os investidores privados aparecem como saída. Mas o dinheiro não vem. Para se ter ideia, a South American Tanker Company Navegação S.A. (Satco) prevê a encomenda de cinco navios ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e tem o valor aprovado de US$ 980 milhões no BNDES, que não é liberado. O pleito foi repassado ao ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Valter Casimiro, em visita ao EAS ontem, dentro de um manifesto para salvar o setor. Ele prometeu levar a pauta ao banco e ao governo.

A visita foi simbólica para apresentar a reta final da construção do primeiro navio Aframax, construído no EAS. É o primeiro de cinco encomendados pela Transpetro, braço logístico da Petrobras. São eles, inclusive, a única demanda atual do estaleiro, o que só garante atividades até 2019.

“É um investimento importante, que garante empregos em Pernambuco e precisamos dessa liberação para poder continuar a operação. A burocracia está travando os processos no BNDES. Agora, com o apoio do ministro e do governador, que sempre se mostrou atento ao setor, esperamos mais uma força para destravar e ajudar o Brasil nessa recuperação da indústria naval nacional”, destacou o presidente do EAS, Harro Burmann.

O caso da Satco é emblemático, lembra o presidente. “A gente anunciou essa encomenda de navio há dois anos. Os processos no BNDES estão parados há mais de um ano. É coisa que a gente tem que mudar. O tempo do BNDES é diferente da vida real. Algo que precisa ser viabilizado em uma semana passa seis meses. A realidade é outra. A gente, por exemplo, evoluiu e passamos a entregar navios mais rápido, em dias. O banco precisa atender os seus clientes em dias, porque hoje na conta do BNDES vão entrar as demissões do estaleiro. Se não destravar, não tem como evitar que essa mão de obra se perca”, complementou.

O ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Valter Casimiro, disse que a agenda das próximas semanas inclui tratar do assunto na alta cúpula do governo federal. “Me comprometi a conversar com o presidente do BNDES (Dyogo Oliveira) para tentar melhorar o ambiente para liberar os financiamentos aprovados pelo FMM e que ainda faltam sair do banco. Vamos buscar formas de agilizar esse processo nas agendas que terei no ministério do planejamento e com o presidente do BNDES”, garantiu.

O governador Paulo Câmara, que participou da visita do ministro, destacou que está junto desde o início e sabe da importância dessa indústria para Pernambuco. “Hoje o estaleiro é de nível mundial, atingiu uma produtividade altíssima, fruto de apostar em Pernambuco e de apostar na mão de obra local, então é uma luta que estamos juntos. O ministro conheceu o funcionamento e está sensibilizado para que a gente possa ter políticas que possam garantir as encomendas, porque o estaleito vai dar conta do trabalho e porque é estratégico, o que deve ser tratado como prioridade para a gente resolver essas pendências em relação ao setor”, reforçou o governador.

“Se não destravar (os recursos do BNDES), não tem como evitar que essa mão de obra se perca (com demissões)”
Harro Burmann, presidente do EAS