Caso Ford coloca reforma tributária na ordem do dia Simplificação dos impostos é considerada essencial para atrair investimentos, mas não seria, segundo especialistas, único motivo para medida da montadora

Publicação: 13/01/2021 03:00

O dia seguinte ao anúncio da Ford de que fechará as suas três fábricas no Brasil foi de protestos dos trabalhadores, críticas à medida da montadora, vinda do presidente Jair Bolsonaro, e a política econômica do país, mas principalmente por buscas de respostas. Bolsonaro afirmou que a montadora deixou o país porque “queriam renovar subsídios para fazer carros brasileiros”. Para os especialistas, a questão vai além de se subsidiar a produção ou de tributos, embora apontem a reforma tributária com questão urgente.

Assim como os especialistas, deputados e senadores colocaram a reforma como questão urgente. Tanto que o relator do processo na Câmara dos Deputados, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), disse ontem que a Casa deve aprovar a reforma ainda em março deste ano. Para ele, votar a reforma passou a ser uma “necessidade”, dada a crise econômica atual. A reforma pretende simplificar e tornar mais eficiente a arrecadação tributária, unificando impostos que incidem sobre o consumo, como o ICMS e a Cofins.

O cientista político Rafael Favetti vê a questão do imposto como importante para atrair negócios, principalmente os estaduais, como uma das principais dificuldades para as indústrias.  “Os impostos nacionais não são o grande problema, pois a Receita Federal brasileira é muito tranquila em relação a sua burocracia e está presente na internet, mas os impostos estaduais são uma dificuldade”, destaca Favetti.

De acordo com ele, “toda reforma tributária em um universo federalista como o nosso, quando modifica impostos que sustentam os estados, enfrenta dificuldade”. E que falta uma atitude do governo central para encontrar um denominador comum e estabelecer para os estados quais serão os ganhos e perdas e se entrarem em consenso.

Apesar do quadro, Wagner Parente, CEO da  BMJ Consultores, ressalta que em alguns setores o Brasil conseguem atrair bons investidores. “Um exemplo são os investimentos para as concessões, que sempre atraem bastante recursos. Alguns setores possuem mais dificuldade, especialmente a indústria, que sofreu muito nos últimos anos”.

Favetti e Parente apontam a ociosidade das plantas e o Custo Brasil também como questões centrais no caso da Ford. Mas acima de tudo, ressalta Favetti, contou a intenção da montadora em transformar sua linha mundial de produção. A Ford pretende se voltar para carros de luxo e de grande porte e as plantas da na Argentina se encaixam neste perfil. (Com Correio Braziliense)