Mudanças na LCI e LCA geram impacto no crédito Especialistas apontam encarecimento do financiamento imobiliário com perdas para investidores e empresas emissoras de títulos com taxação prevista em MP

Cecília Belo

Publicação: 16/06/2025 03:00

Advogado: custo de captação para empresas cresce em cenário pressionado por juros altos (GERINALDO NETO/DIVULGAÇÃO)
Advogado: custo de captação para empresas cresce em cenário pressionado por juros altos

A decisão do governo federal, através de Medida Provisória (MP), de taxar as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs) a partir de 2026 acendeu um sinal de alerta no mercado financeiro e entre os setores da construção civil e do agronegócio.

A medida provisória, que já está valendo, impõe uma alíquota de 5% de Imposto de Renda na fonte para títulos que até então eram isentos, com o objetivo de aumentar a arrecadação em meio à crise fiscal. Especialistas ouvidos pelo Diario avaliam que a medida pode provocar um efeito cascata: de investidores migrando para outros produtos até o encarecimento do crédito e a retração de novos empreendimentos.

Segundo o advogado especializado em Direito Imobiliário, Amadeu Mendonça, a mudança representa perdas para os dois lados da cadeia - tanto os investidores quanto as empresas emissoras dos títulos. No entanto, ele pondera que as empresas dos ramos afetados acabam sendo um pouco mais impactadas, porque no fim das contas o investidor pode migrar para outros ativos. “Já para as empresas, o custo de captação aumenta em um cenário já pressionado por juros altos”, afirma.

Esse aumento de custo tende a ser repassado para os recebedores dos empréstimos, segundo o consultor financeiro e CEO da Vega Investimentos, Rodrigo Hudson. Ele explica que os bancos, para manter a atratividade das LCIs, precisarão elevar a remuneração oferecida aos investidores, o que, na outra ponta, pressiona o valor dos empréstimos concedidos às incorporadoras.

Isso deve encarecer o crédito imobiliário e dificultar o lançamento de novos empreendimentos. O investidor sente primeiro, mas “o maior prejudicado no médio prazo será o mercado imobiliário e, por consequência, o consumidor final”, avalia.

A taxação também atinge títulos como CRIs, CRAs e debêntures incentivadas, que vinham sendo usados por empresas para financiar projetos de infraestrutura e expansão. Para Hudson, o momento é especialmente delicado. Ele ressalta que essas empresas já enfrentam um ambiente macroeconômico desafiador, e agora perderam um dos principais instrumentos de captação com custo atrativo. O impacto disso pode ser a redução de investimentos e até corte de empregos.

Apesar da medida só atingir os títulos que vão ser adquiridos em 2026, os efeitos já começam a aparecer. “O mercado espera uma corrida para emissão de títulos antes da mudança. Emissores e investidores devem tentar aproveitar a janela de isenção enquanto ela existir”, prevê Hudson.