Tarifaço: plano do governo deve ter linha de crédito Medida está sendo analisada pelo Planalto para amenizar impactos da taxa dos EUA nos setores produtivos. Pacote de ações deve ser divulgado nesta semana

Thatiany Lucena

Publicação: 04/08/2025 03:00


Diante das recentes mudanças nas regras do tarifaço, que ainda afetam as exportações brasileiras de produtos como o café, carne e frutas, o governo federal está elaborando um plano de contingência considerando os impactos por setores afetados. As medidas do governo incluem a reformulação de programas de exportação para os setores afetados. Além disso, o apoio com incentivos financeiros, como linhas de crédito a juros baixos, ou estímulo à exportação.

Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que o governo federal está analisando os números para entender qual será o volume de recursos necessários para “socorrer” os setores afetados no primeiro momento. A expectativa do ministro é de que o plano seja anunciado nesta semana. 

“Estamos procurando apresentar um cardápio (de medidas) para o presidente que possa ser utilizado de acordo com a necessidade de cada setor, de cada empresa”, explicou Haddad. Os Estados Unidos taxaram em 50% os produtos brasileiros e a medida entra em vigor na próxima quarta-feira.

De acordo com o professor de economia e finanças da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Luiz Maia, medidas como o lançamento de linhas emergenciais de crédito são especuladas porque é um recurso que o governo já realizou em situações passadas, como durante a pandemia da Covid-19. “O governo precisa praticar taxas que sejam minimamente compatíveis com o que está sendo negociado no mercado. Então, ele vai oferecer linhas de crédito, provavelmente alongadas. Isso é uma coisa previsível porque quando ele dá empréstimo, do ponto de vista da contabilidade pública, ele lança uma saída de dinheiro, mas também um ativo, como se fosse uma futura entrada de dinheiro”, disse.

De acordo com o economista, a longo prazo, as linhas de crédito podem acabar não sendo suficientes para suprir os prejuízos com o tarifaço. Para ele, o ideal seria que as empresas utilizem os incentivos na busca por readaptação dos produtos ou de novos mercados.

Segundo Maia, a linha emergencial de crédito é a única alternativa viável, já que o governo federal está com as contas apertadas. “Estamos vindo de um período dos últimos dois anos em que o governo toda hora tem tido dificuldade para fechar suas contas e tem recorrido a duas táticas para tentar manter as contas mais ou menos equilibradas. Uma delas é não lançar certas despesas como parte da contabilidade oficial”, afirma.

Luiz Maia dá o exemplo dos precatórios, quando o governo tem que pagar parte das despesas por perder essas causas na justiça e essas não estão sendo contabilizadas como parte do resultado das contas públicas. A outra estratégia que ele aponta é o aumento de impostos.

OUTROS IMPACTOS
Além dos impactos diretos causados pela taxa de 50% na exportação de determinados produtos, o economista destaca ainda outra questão que deve trazer efeitos negativos para o Brasil. Como consequência do tarifaço global, os países sobretaxados podem acabar desviando os produtos para serem vendidos no Brasil.

“Mas essa questão as pessoas nem estão falando. Elas estão só preocupadas com o primeiro impacto que é um custo muito maior para as empresas que vendem os produtos brasileiros lá nos EUA”, finaliza. (Com Agência Brasil)