A química mortal do extremismo Da Síria à Bélgica, do Iraque a Paris, %u201Ca mãe de Satã%u201D é o explosivo preferido dos jihadistas do Estado Islâmico para grandes ataques terroristas

Publicação: 17/04/2016 03:00

Paris (AFP) – É um pó branco, discreto, fácil de fabricar e mortal. Em Bruxelas, no mês passado, assim como na casa de shows Bataclan em Paris ou na Síria, o TATP, apelidado pelos extremistas de “a mãe de Satã”, parece ser o explosivo preferido do Estado Islâmico. “Quinze quilos de explosivo do tipo TATP, 150 litros de acetona, 30 litros de água oxigenada, detonadores, uma mala cheia de pregos e parafusos” foram encontrados em um apartamento dos homens-bomba de Bruxelas, segundo revelou o procurador federal belga, Frédéric Van Leeuw.
Descoberto no final do século 19 por um químico alemão, o peróxido de acetona (TATP: Triperóxido de triacetona) é um explosivo artesanal obtido na mistura, em proporções precisas, de acetona, água oxigenada e um ácido (sulfúrico, clorídrico ou nítrico), produtos facilmente encontrados no comércio.
O resultado é um pó constituído de cristais brancos, parecido com açúcar cristal, que um simples detonador basta para fazê-lo explodir, em uma deflagração terrível que produz gases quentes.
Nos últimos anos, no Iraque e na Síria, os laboratórios - primeiro precários, depois quase industriais - de TATP e de outros explosivos artesanais se multiplicaram.
Em um relatório publicado em fevereiro, a ONG Conflict Armament Research apontou, após uma investigação de vinte meses, uma rede de 51 empresas, com sede em vinte países, incluindo Turquia, Brasil, Rússia, Bélgica e Estados Unidos, que forneceram ao EI os componentes necessários para a fabricação semi-industrial de explosivos artesanais. “Ao contrário do que dizem, olhar um tutorial na internet não basta”, assegura Eric, um ex-oficial, especialista em explosivos, que pede para não ter seu sobrenome identificado. “É preciso que alguém ensine e mostre pelo menos uma vez. Mas, de instrutores, o Estado Islâmico está cheio. Pois isso se difunde na prática. Quando alguém te mostra, você pode, efetivamente, produzir o explosivo em sua cozinha”.
É de TATP que foram constituídos os cintos explosivos dos suicidas que atacaram em 13 de novembro de Paris. A substância também foi encontrada nos coletes e bombas que os extremistas explodiram no mês passado em Bruxelas, matando pelo menos 31 pessoas e ferindo outras 270, muitas das quais sofreram queimaduras graves.
Para provocar a explosão de TATP, um detonador é necessário. Ele pode ser fabricado com a ajuda de um tubo de metal preenchido com pasta e ligado a dois fios elétricos que, em contato, vão causar um arco elétrico e chamas.