Publicação: 09/09/2017 09:00
Foram sete dias nesta segunda viagem ao Haiti. Na maior parte do tempo, acompanhando o BRABAT. Na primeira manhã após o fim da missão de paz, sem as tropas brasileiras nas ruas, resolvi voltar à maior favela de Porto Príncipe, Cité Soleil. Acertei com um fixer (guia) para me apanhar na base logo cedo. Segundo os militares, a área foi pacificado, mas cerca de 20 minutos depois de estrar no local, fui cercada por cerca de 9 homens, sendo 2 deles armados.
Enquanto eles falavam com o tradutor que me acompanhava, consegui trocar o cartão que estava na câmera por um cartão limpo. Pediram pra não fotografar mais. O fixer ficou tentando negociar com eles a nossa saída do local, mas eles pareciam resistentes. Um deles se aproximou de mim e ficou olhando a câmera. Achei que fosse levá-la, mas pediu só que colocasse a tampa na lente e não fotografasse mais. Falou que, para entrar na comunidade, teríamos que ter a autorização do chefe antes. Insistiram em saber o que procurava lá. Falei das bolachas que eram feitas de barro. Falaram que naquela área não havia ninguém fabricando ou vendendo as tais bolachas, mas que encontraria com facilidade no mercado Venezuela.
O mercado, mais conhecido como “cozinha do inferno”, foi o lugar mais inóspito que já estive em toda minha existência. A quantidade de lixo é maior que a quantidade de frutas e verduras que são vendidas no local. Pra caminhar na feira, é preciso passar por cima da lama que se mistura ao que está sendo vendido. O cheiro é forte. Um misto de urina, lixo e fumaça de comidas que são feitas na hora.
De fato, não foi difícil encontrar as bolachas. No local onde parei, por exemplo, pude contar cerca de oito a dez pessoas vendendo. Grande parte da população resiste à fome. Adultos e crianças continuam comendo as bolachas feitas de barro, água, sal e manteiga. Isso não é coisa do passado. Yvoise Natan, 35, conta que consegue sustentar toda a família. Compra comida, paga escola, compra roupas. Os preços variam de um a cinco gourde (moeda local). A realidade dos haitianos não mudou muito. As bolachas continuam sendo o retrato da miséria.
Para o sargento Simões, pernambucano que de junho a agosto fez parte da desmobilização das tropas brasileiras no Haiti, o momento mais difícil pra ele foi encontrar crianças em situação de miséria, sem ter o que comer, beber e vestir. “Sou pai de três filhos, quando vejo esse sofrimento, tento não demonstrar, mas sofro junto”.
A população do Haiti tem hoje cerca de dez milhões de habitantes. Mais da metade é analfabeta e grande parcela não tem trabalho. Com o desemprego, os habitantes da região sobrevivem do escambo, e quem tem alguma atividade econômica chega a ganhar em média U$ 2 por dia. A sujeira ainda invade as ruas, formando montanhas de lixo. Os moradores ainda não têm acesso a energia elétrica e a água potável. À noite, a maior parte das ruas é escura, facilitando a ação de bandidos e a exploração sexual. A segunda nação independente das Américas, além de ser conhecida por inúmeras catástrofes naturais, é também palco de muitas e sérias violações aos direitos humanos.
A água salgada acaba sendo a solução
Sem água potável, os haitianos usam a água do mar para as necessidades básicas. Não é incomum ver crianças entrando no mar com baldes cheios.
Porto Príncipe é dividida em três áreas: verdes, amarelas e vermelhas. As cores estão relacionadas ao risco que a ONU coloca em relação à segurança de circulação no local. Cité Soleil é considerada uma área vermelha.
Onde a miséria é ainda maior e mais angustiante
Cité Soleil é o nome da maior favela de Porto Príncipe. Lá, existe mais lixo espalhado, a pobreza mostra uma cara ainda mais assustadora e a criminalidade chega ao topo. O lugar reúne algumas das gangues mais violentas da cidade e acaba fazendo com que os moradores sejam “esquecidos” pelo poder público.
Após o fim da missão de paz, o haiti tenta voltar à vida “normal”
O Haiti ainda não tem energia elétrica e muita gente mal tem o que comer. O país continua sendo o mais pobre das Américas. Mas como que se estivesse acostumada a viver na miséria e sem perspectiva de vida, a população parece confiar que dias melhores virão.
A “cozinha do inferno”
O nome como é conhecido o Mercado Venezuela diz muito sobre o lugar: tem mais lixo do que comida, um cheiro forte de urina, fumaça e cheirume. Para andar na feira, é preciso andar sobre a lama. É lá também onde são encontrados os biscoitos de barro. Feitos de manteiga, água, sal e lama, matam a fome de muitos haitianos.
Haiti
Nome: República do Haiti
Capital: Porto Príncipe
IDH: 0,493 (163º) - baixo
População: 9. 996. 731
Línguas oficiais: Crioulo haitiano e Francês
Enquanto eles falavam com o tradutor que me acompanhava, consegui trocar o cartão que estava na câmera por um cartão limpo. Pediram pra não fotografar mais. O fixer ficou tentando negociar com eles a nossa saída do local, mas eles pareciam resistentes. Um deles se aproximou de mim e ficou olhando a câmera. Achei que fosse levá-la, mas pediu só que colocasse a tampa na lente e não fotografasse mais. Falou que, para entrar na comunidade, teríamos que ter a autorização do chefe antes. Insistiram em saber o que procurava lá. Falei das bolachas que eram feitas de barro. Falaram que naquela área não havia ninguém fabricando ou vendendo as tais bolachas, mas que encontraria com facilidade no mercado Venezuela.
O mercado, mais conhecido como “cozinha do inferno”, foi o lugar mais inóspito que já estive em toda minha existência. A quantidade de lixo é maior que a quantidade de frutas e verduras que são vendidas no local. Pra caminhar na feira, é preciso passar por cima da lama que se mistura ao que está sendo vendido. O cheiro é forte. Um misto de urina, lixo e fumaça de comidas que são feitas na hora.
De fato, não foi difícil encontrar as bolachas. No local onde parei, por exemplo, pude contar cerca de oito a dez pessoas vendendo. Grande parte da população resiste à fome. Adultos e crianças continuam comendo as bolachas feitas de barro, água, sal e manteiga. Isso não é coisa do passado. Yvoise Natan, 35, conta que consegue sustentar toda a família. Compra comida, paga escola, compra roupas. Os preços variam de um a cinco gourde (moeda local). A realidade dos haitianos não mudou muito. As bolachas continuam sendo o retrato da miséria.
Para o sargento Simões, pernambucano que de junho a agosto fez parte da desmobilização das tropas brasileiras no Haiti, o momento mais difícil pra ele foi encontrar crianças em situação de miséria, sem ter o que comer, beber e vestir. “Sou pai de três filhos, quando vejo esse sofrimento, tento não demonstrar, mas sofro junto”.
A população do Haiti tem hoje cerca de dez milhões de habitantes. Mais da metade é analfabeta e grande parcela não tem trabalho. Com o desemprego, os habitantes da região sobrevivem do escambo, e quem tem alguma atividade econômica chega a ganhar em média U$ 2 por dia. A sujeira ainda invade as ruas, formando montanhas de lixo. Os moradores ainda não têm acesso a energia elétrica e a água potável. À noite, a maior parte das ruas é escura, facilitando a ação de bandidos e a exploração sexual. A segunda nação independente das Américas, além de ser conhecida por inúmeras catástrofes naturais, é também palco de muitas e sérias violações aos direitos humanos.
A água salgada acaba sendo a solução
Sem água potável, os haitianos usam a água do mar para as necessidades básicas. Não é incomum ver crianças entrando no mar com baldes cheios.
Porto Príncipe é dividida em três áreas: verdes, amarelas e vermelhas. As cores estão relacionadas ao risco que a ONU coloca em relação à segurança de circulação no local. Cité Soleil é considerada uma área vermelha.
Onde a miséria é ainda maior e mais angustiante
Cité Soleil é o nome da maior favela de Porto Príncipe. Lá, existe mais lixo espalhado, a pobreza mostra uma cara ainda mais assustadora e a criminalidade chega ao topo. O lugar reúne algumas das gangues mais violentas da cidade e acaba fazendo com que os moradores sejam “esquecidos” pelo poder público.
Após o fim da missão de paz, o haiti tenta voltar à vida “normal”
O Haiti ainda não tem energia elétrica e muita gente mal tem o que comer. O país continua sendo o mais pobre das Américas. Mas como que se estivesse acostumada a viver na miséria e sem perspectiva de vida, a população parece confiar que dias melhores virão.
A “cozinha do inferno”
O nome como é conhecido o Mercado Venezuela diz muito sobre o lugar: tem mais lixo do que comida, um cheiro forte de urina, fumaça e cheirume. Para andar na feira, é preciso andar sobre a lama. É lá também onde são encontrados os biscoitos de barro. Feitos de manteiga, água, sal e lama, matam a fome de muitos haitianos.
Haiti
Nome: República do Haiti
Capital: Porto Príncipe
IDH: 0,493 (163º) - baixo
População: 9. 996. 731
Línguas oficiais: Crioulo haitiano e Francês
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