Encontro com acordo e muitas dúvidas A história foi escrita por Trump e Kim ao se encontrarem em Singapura. Resta saber agora se os pontos acordados por ambos serão devidamente cumpridos

Publicação: 13/06/2018 09:00

Singapura (AFP) - Donald Trump e Kim Jong-un celebraram uma reunião de cúpula histórica que terminou em um acordo no qual a Coreia do Norte prometeu uma “desnuclearização completa”, mas que deixa muitas perguntas sem respostas. Depois de décadas de tensão pelas ambições atômicas da Coreia do Norte, o presidente americano afirmou que o “processo de desnuclearização” poderá começar “muito em breve”.

A frase da declaração conjunta é bastante vaga a respeito de um calendário e cita negociações posteriores para a aplicação das medidas. Estas negociações começarão a partir da próxima semana e serão lideradas pelo secretário de Estado americano Mike Pompeo, figura chave no diálogo entre Estados Unidos e Coreia do Norte.

O documento também não afirma que a desnuclearização será “verificável e irreversível” como exigiam os Estados Unidos antes do encontro de cúpula de Singapura, o que poderia ser interpretado como um recuo de Trump. “Kim Jong-un reiterou o compromisso firme e inquebrantável a favor de uma desnuclearização completa da península coreana”, indica o documento.

“A Coreia do Norte não prometeu nada mais do que promete há 25 anos”, afirmou Vipin Narang, professor do Massachusetts Institute of Techonolgy. “A esta altura, não há nenhuma razão para pensar que a cúpula resulte em algo mais concreto em termos de desarmamento”.

Promessas
Analistas e historiadores acreditam que existe uma possibilidade, mas recordam que o regime de Pyongyang tem um histórico de promessas não cumpridas. Em 1994 e em 2005 foram anunciados acordos que nunca foram aplicados.

Na longa e desordenada entrevista coletiva posterior, Donald Trump, que disse não ter dormido durante 25 horas, afirmou, sem revelar detalhes, que a desnuclearização será submetida a verificações e que as sanções contra a Coreia do Norte permanecerão em vigor enquanto persistir a “ameaça” das armas nucleares.

Trump afirmou que estabeleceu “um vínculo especial” com o líder do regime norte-coreano, que comanda o país com mão de ferro, assim como seu pai e seu avô. Sorridente, Trump considerou a reunião “realmente fantástica” e que transcorreu “melhor do que qualquer um teria esperado” e permitiu fazer “muitos progressos”. Trump multiplicou as demonstrações de afeto e elogiou Kim, a quem chamou de “muito talentoso” e de “ótimo negociador”. Trump também se declarou disposto a convidar Kim à Casa Branca e não descartou viajar, “no momento apropriado”, a Pyongyang. Kim aceitou o convite de Trump de visitar os Estados Unidos, em breve.

Já a bordo do Air Force One a caminho dos Estados Unidos, o presidente disse à imprensa que confia no líder norte-coreano no que diz respeito à desnuclearização. Nessas conversas “não teríamos podido fazer mais nada” por enquanto, acrescentou.

“É uma enorme vitória para Kim Jong-un, que fez uma grande jogada com seu cara a cara com o presidente”, afirmou Michael Kovrig, do International Crisis Group (ICG) em Washington. Seu pai e seu avô “sonharam com isto”. “Para os Estados Unidos e a comunidade internacional é um ponto de partida positivo para negociações que serão longas e difíceis”, completou Kovrig.

O presidente sul-coreano Moon Jae-in chamou o acordo de Singapura de “evento histórico que ajudou a derrubar o último legado que restava da Guerra Fria”. O governo da China, principal aliado da Coreia do Norte, aplaudiu o início de uma “nova história”.