Os malefícios dos filmes dublados

Moacir Veloso
Advogado
moacirveloso@ig.com.br

Publicação: 26/07/2014 03:00

Na década de 1930, após o impacto da conversão definitiva de Hollywood para o cinema sonoro, a dublagem já tinha se consolidado os principais mercados internacionais de filmes norte-americanos. Com o barateamento e a melhoria técnica desse processo, a França, Alemanha e Itália, entre outros, em função dos seus regimes nacionalistas, criaram leis obrigando a implementação da dublagem em seus territórios.

No Brasil, na transição do cinema mudo para o cinema falado – 1929 a 1936 – também existiram defensores da obrigatoriedade da dublagem, para esconjurar o perigo da desnacionalização do nosso idioma. Merece registro um editorial da revista Cinearte, de novembro de 1931, “Quem se deleita ao ler Flaubert, Maupassant e tantos outros não é por isso que deixava de admirar e amar a nossa língua, a mesma língua em que escreveu Machado de Assis. Quem entender inglês gozará com os filmes falados em inglês. Quem não entender lerá as legendas superpostas. E disso mal não virá, nem com a língua dos nossos filhos. E que aprendamos inglês com o filme (como se isso fosse possível) será vantagem e não pequena. Ao menos poderemos ler Shakespeare ou Mark Twain, no original, conforme os gostos”.

Nesse período, Henrique de Almeida Filho, dono de uma empresa sediada em New York, chegou a fazer dublagens em português para alguns longas-metragens da Paramount lançados no Brasil. A controvérsia persistiu e o mesmo crítico da Cinearte assim se manifestou “Para que o processo dubbing fosse uma coisa viável entre nós, preciso era que não conhecêssemos as vozes dos artistas e, principalmente, só tivéssemos assistido filmes assim. [...] dessa forma, acharíamos natural aquelas inflexões forçadas e possível de apreciar a nossa língua substituindo a fala em inglês [...] A mudança das inflexões das vozes, o desencontro de certos momentos, nos movimentos labiais perturbam todo filme e ninguém o poderá apreciar nos seus verdadeiros méritos.”

Tem razão o comentarista de par com a realidade contemporânea, máxime a de Hollywood, cujo os filmes vêm sendo exibidos sob dublagem. Na TV aberta são sempre dublados, por força do interesse de atingir toda a plateia nacional, formada em grande parte por analfabetos, semianalfabetos e os analfabetos informais. Estes, não conseguem ler as legendas em português por falta de agilidade intelectual. Isto é resultado do fato de que, segundo os dados dos Indicadores Sociais Municipais do Censo Demográfico de 2010, divulgados pelo IBGE, mais de 50% da população brasileira é semianalfabeta e 38% analfabeta.

*Agora pergunto aos economistas o que significa ser a 5ª economia do mundo, com esses indicadores de ignorância?