Mestre Aníbal Fernandes

Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras
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Publicação: 07/10/2014 03:00

Aníbal Fernandes, (30-12-1894 – 12-1-1962) o grande jornalista,  cuja atuação como diretor do Diario de Pernambuco será sempre  lembrada. Aníbal mereceu da França a  suprema distinção da Legion d’Honneur. A Inglaterra também o distinguiu com a King’s Medal. Quando prefeito, Miguel Arraes sancionou a lei que autorizava a Prefeitura do Recife a erguer um busto de bronze ao grande defensor do Recife, na Praça da Independência, conhecida  pracinha do  Diario. Dr. Aníbal, morando em Boa Viagem, foi um transeunte da Praça da Independência. Grande  admirador de Eça de Queiroz,  assim como os do seu tempo, Sílvio Rabelo, Nilo Pereira, Jordão Emerenciano, Silvino Lopes, Paulo Cavalcanti.   

Na companhia de Mauro Mota, redator e secretário do Diario, frequentamos a hospitaleira casa do doutor Aníbal e Dona Fédora, na Rua dos Navegantes nº 1600, em Boa Viagem. No ano-novo, todos do Diario de Pernambuco compareciam à festa em comemoração do aniversário de uma das maiores figuras da imprensa brasileira. Nas paredes da bela casa telas assinadas por dona Fédora, nascida Rego Monteiro, estudou artes em Paris, com os irmãos Vicente e Joaquim, na Escola de Belas Artes.   

Assis Chateaubriand, o dono dos Diários Associados, grande divulgador do Brasil no exterior, trouxe de Paris um grupo de amigos, entre eles a Duquesa de la  Rochefoucaud. A ilustre dama veria o que de notável o Recife oferecia aos visitantes. O Dr. Aníbal Fernandes, um apaixonado pela França, com a facilidade do encontro falava o idioma fluente com a Duquesa.

Em agosto de 1954 viajou a Paris cumprindo compromissos culturais e revendo as paisagens que amava. Entra numa livraria, lembrando o aniversário de Mauro Mota, em 16 de agosto  daquele ano. Compra o  livro de Paul Eluard – Le Sentier et les Routes de la Poésie. Numa dedicatória extensa, lírica e afetuosa, com forte presságio de que seria sua última viagem: “Mauro: este livro lhe ofereço como lembrança desta minha viagem a Paris, que espero em Deus não seja a última, porque quando mais aqui venho, mais tenho vontade de voltar. E tudo me agarra a Paris como visgo. No fundo de mim mesmo sinto-me um homem desta cidade, que tudo aqui me evoca o Recife, pois na verdade quando estou em Paris gosto de voltar ao Recife. Seu velho amigo Anibal Fernandes”.

Mauro Mota escreve, em sua crônica do Diario de Pernambuco, 8/11/1970:  “No jornal, quero dizer nas páginas do Diario, Aníbal Fernandes deixou as suas obras completas. Obras Completas a merecerem uma Antologia.”