Sobre a inveja e o invejoso

Assuero Gomes
Médico e Escritor
assuerogomes@terra.com.br

Publicação: 08/04/2015 03:00

A inveja é um estado de espírito misterioso e profundo. Quem é dele possuído não o percebe, mas aos poucos ele vai tomando conta de sua personalidade, de seu corpo e de sua vida toda. A inveja transforma o invejoso numa pessoa sutil. Não deseja o que você tem, é travestido em amigo, está sempre perto. Não grita, não explode, não incomoda, pelo contrário, é discreto, olha para baixo, fala mansa. É disponível. Não quer o que você tem, nem quer ser igual a você, isso é o ambicioso, que é bem diferente.

A inveja é silenciosa, é roxa, é lúgubre e temerária. Está presente desde os primeiros momentos do dia na alma da qual se apossa, até a madrugada, podendo invadir os sonhos impunemente. A inveja é assim como um ente vivo e asqueroso, invisível.
Um poder altamente destrutível, assim é a inveja. Enquanto o ambicioso quer ter o que você tem, o invejoso quer destruir o que você é.

O invejoso sofre sem saber. Ele definha a cada dia, esmaece sua vitalidade, ele seca, desidrata. A cada conquista ou vitória do seu objeto de destruição, ele morre um pouco. A inveja é o antisacramento do amor. Há casos extremos nos quais o invejoso adoece mentalmente, fisicamente e espiritualmente de maneira tal que se torna irrecuperável. O caso clássico é Caim. Talvez psicanalistas joguem alguma luz nesse comportamento patológico.

O espírito de Caim ainda ronda a humanidade inteira com sua carga pervesa de antienergia. O sangue de Abel derramado pela inveja, amaldiçoou toda a Terra, e Caim seu irmão, anda perambulando nos lugares ermos, buscando guarida nos corpos de pessoas frágeis, para aí fazer seu ninho peçonhento. Algumas vezes esse espírito do mal ocupa grupos inteiros e se manifesta coletivamente.

Ninguém está totalmente livre do invejoso e de sua inveja. Cautela, oração, discernimento e principalmente a prática da caridade, são caminhos atídotos, que podemos e devemos utilizar com segurança para que nos tornemos menos susceptíveis aos efeitos maléficos da inveja.

O invejoso é tão doente, tão doente, que na verdade não quer nada para si, nem muito menos para ninguém. Quer apenas que o outro não tenha. A inveja destrói até a autoestima e o senso da humanidade que habita em cada um de nós.

É um mistério, e grande mistério, como tal sentimento se espraiou pela Terra e hoje é universal, fazendo vítimas de todos os lados. Imagino a inveja como um gás roxo que as pessoas inalam e impregnam seu ser e após vomitam nos córregos, riachos e rios, contaminando a Criação, no que ela tem mais de belo, a humanidade.

Oração e caridade, cautela e discernimento, para que nossos corações percebam e recebam a misericórdia de Deus, sempre.