Aloisio Magalhães, um legado

Antônio Campos
Advogado
camposad@camposadvogados.com.br

Publicação: 31/05/2015 03:00

Está em exposição no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães – MAMAM, até o dia 26 de julho, a “Ocupação Aloisio Magalhães”, mostra que trará mais de 70 obras do pernambucano, divididas em momentos da carreira do designer. A exposição oferece ao público admirador deste grande gestor cultural a oportunidade de conhecer algo mais sobre o seu legado, sendo esta, portanto, uma excelente chance de entender as múltiplas facetas do artista mundialmente conhecido. Nela, o visitante poderá, através de textos e imagens, conhecer a atuação de Aloísio nos mais diversos campos: artístico, educativo, cultural, político, entre outros. Uma exposição que busca dimensionar a importância dele que foi um notável mestre do design moderno.

Foi durante os meus primeiros passos para me tornar um editor, projeto que não se completaria se eu não me iniciasse no conhecimento da arte do design gráfico, que tomei conhecimento da obra inovadora do pernambucano Aloisio Magalhães (1927/ 1982). Primeiro, através do Gráfico Amador, um ‘private press’ fundado por ele e um grupo de amigos, com sede na Rua Amélia, no bairro recifense do Espinheiro, na década de 1950. Tinha como princípio desfazer a noção de que livro de arte precisava ser sinônimo de edição de luxo. Daí publicou autores como João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Sebastião Uchoa Leite, entre outros, que ficaram na história do livro do Brasil. Um verdadeiro marco na história editorial e gráfica do Brasil. João Cabral nunca se cansava de elogiar a qualidade dessas edições, feitas numa simples máquina manual de impressão. Cada fonte de tipo era uma obra de arte. Hoje é tesouro de valor inestimável, desejo de colecionadores de requintada exigência.

Aloisio Magalhães foi o grande mestre e incentivador desse movimento singular na cultura pernambucana e brasileira. No Gráfico Amador, além de Gastão de Holanda destacavam-se José Laurênio de Melo e Orlando da Costa Ferreira. Em seu livro sobre O Gráfico Amador, Guilherme da Cunha Lima defende que as experiências em design gráfico do grupo recifense tiveram um papel importante nas origens da moderna tipografia brasileira, tendo, na época, recebido elogios do poeta Carlos Drummond de Andrade em uma crônica publicada no “Jornal do Brasil”. Foi a partir dessa experiência, que já virou tese de mestrado, além de muitos debates acadêmicos e celebrações, que o nosso Aloisio Magalhães partiu, ainda jovem, para outros empreendimentos fora de Pernambuco.

Tornou-se o mestre de design mais importante do Brasil do seu tempo. Um dos primeiros profissionais a criar uma teoria do design gráfico que não dependia exclusivamente da estrutura tradicional da história da arte.

Ele sabia, como raros, unir a linguagem verbal com a imagem gráfica. Espessura exata do grafismo, efeitos de transparências (recursos que exigem muita cautela em sua utilização), configuração de cores: nisso o nosso Magalhães era mestríssimo. Além de designer, foi artista plástico e Secretário de Cultura do Ministério da Educação e da Cultura (MEC). Tornou-se diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Projetou a identidade visual da Petrobrás, do IV Centenário do Rio de Janeiro e da primeira marca da TV Globo. Entre as honrarias de que foi merecedor fora do Brasil, uma de grande relevo foi a Medalha de Ouro do Art Directors Club of Philadelphia. Um registro que nunca deixará de ser feito com louvor: o titulo concedido pela UNESCO, que elegeu Olinda como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, para a fase preparatória e sua complexa documentação, contou com a dedicação voluntária de Aloisio Magalhães e seu parceiro, o escritor e acadêmico Eduardo Portella, que sempre teve pelo Recife e Olinda uma grande amizade. A exposição mostra o legado de um artista que fez diferença e desenhou o Brasil.