A perfeição do corpo humano

Vladimir Souza Carvalho
Magistrado
vladimirsc@trf5.jus.br

Publicação: 29/06/2015 03:00

Os olhos, lá em cima, perto do cérebro, para dar ao homem uma visão ampla de tudo ao seu redor. Ficassem nos pés, estaríamos fritos, batendo cabeça lá em cima, o horizonte reduzido. A boca também no rosto, para a comida digerida se acomodar na barriga, boca que serve para comer, falar e beijar. Perfeito, na forma e no conteúdo, o corpo humano. O Criador elaborou um projeto genial, pensando em tudo. Até no defecar, para que a via utilizada ficasse numa região onde a curvatura do corpo, no encontro do tronco com as pernas facilitasse a sua saída, sem sujar o restante do corpo com o excremento expelido. O Criador deve ter pensado até no vaso sanitário, que o homem demoraria a executar. E enquanto não o fez, aprendeu a se agachar no momento em que a barriga dava sinal de querer jogar alguma coisa fora. Como não era, nem nunca foi, um ato de elegância, procurou fazê-lo no mato. Depois, para não passar outros riscos, se isolou no sanitário, onde ainda hoje continua.

O corpo do homem é, sem dúvida, uma das mais sublimes entre as maiores invenções de Deus. Nada escapou. Se à época da criação, não existia ainda o aparelho celular, o Criador não perdeu tempo. Deixou a orelha perto do ombro ou o ombro perto da orelha. De antemão, verificou a necessidade de todos falarem ao tempo em que faziam outra coisa. Dou um exemplo: no supermercado. A freguesa, simultaneamente, no momento de pagar, clica o aparelho do cartão magnético e fala ao telefone. Como? Ora, colocando o celular no ombro, perto do ouvido, e, ademais, levantando o ombro para segurar bem o aparelho, ou o erguendo de modo a equilibrar o telefone. Antes do celular, a proximidade do ombro com o ouvido deve ter passado despercebido de todos. A descoberta do celular e seu uso frequente, o homem sempre com pressa, realizando duas e três coisas ao mesmo tempo, fez com que captasse a real finalidade do ombro perto do ouvido, ou do ouvido perto do ombro.

Essa a impressão que tenho sempre que vejo alguém com o celular no ouvido, a equilibrá-lo no ombro. A busca da perfeição formal da criatura deve ter inibido o Criador de colocar três braços no homem. Ficaria feio. Pensou. E acertou, no que, aliás, fez muito bem.