Por quem os sinos dobram?

Dagoberto Carvalho Jr.
Escritor
dagobertocjr@hotmail.com

Publicação: 02/11/2015 03:00

Se Ernest Hemingway perguntasse hoje por quem os sinos dobram, responderíamos, não apenas eu, mas todos os que no Brasil, em Portugal e em outras terras que tiveram a ventura de ouvir falar de e em Eça de Queiroz – e/ou lhe estudaram ou estudam a obra grandiosa –, a resposta mais imediata e mais doída seria a de que eles repicam finados por Betriz Berrini. Querida amiga, grande escritora que o Brasil e o ecianismo internacional perderam, guardando-lhe, no entanto – da pessoa – a memória mais querida; da escritora, o eterno agradecimento pela imensurável contribuição à literatura de língua portuguesa como um todo e eciana ou queirosiana – como lá dizem os patrícios – em particular.

Minha apresentação à paulista “quatrocentona” – pelas fundas raízes familiares dos Prado maternos; condição de que, se se orgulhava, nunca deixou escapar, pela excelente formação cultural ou, pela modéstia, mesmo, de católica crente e praticante – à época do lançamento de meu livro de estreia na área literária de sua mais declarada predileção, por ninguém menos que seu “correspondente”, enquanto referência maior, no Recife, Paulo de Figueiredo Cavalcanti. Era 1994 e eu lançava, prefaciado por ele, na velha Livro 7, com selo da Editora da Universidade Federal de Pernambuco, A Cidadela do Espírito – Considerações sobre a Arte Sacra na obra de Eça de Queiroz. Pequeno grande passo para uma amizade de quase um quarto de século que muitas visitas – dela, ao Recife; minhas, a São Paulo – sedimentaram e esta crônica de saudade testemunha e documenta.

De secretário da Sociedade Eça de Queiroz, antigo Clube de Amigos de Eça (1948), nas presidências do próprio Paulo e do engenheiro Pelópidas Silveira (engenheiro que melhor conheceu Eça), a seu presidente, tive a honra e a alegria de coordenar ou participar da coordenação de todos os eventos que, no Recife, no meio tempo declarado, se fizeram em nome e em homenagem ao criador de Fradique Mendes, autor dos mais ricos títulos da romancística portuguesa, de todos os tempos, entre os quais não se pode deixar de incluir O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio e Os Maias.

Jantares e almoços ecianos no “Garrafeira”, no “Leite” e na minha casa, com direito – nesta – uma vez, em companhia da professora Rosa Goullart (universidade dos Açores), por ocasião da tese de doutorado do professor José Rodrigues de Paiva, a sesta; cordialidade de que nunca esqueceu. Visitas à Praça Eça de Queiroz – seu nome no obelisco do jardim –, conferências na UFPE.

Dois momentos especialíssimos, no entanto, devo destacar nesta página. Minha presença, a convite dela, na Obra Completa de Eça de Queiroz, como prefaciador do livro Uma Campanha Alegre, em que estudo a recepção (literária) de Eça de Queiroz em Pernambuco. O outro, coroamento de todos esses encontros, na “Roma” de nossos estudos e de nossas admirações, na Quinta de Vila Nova, Santa Cruz do Douro, Baião, Portugal – sede da Fundação Eça de Queiroz – recebidos por sua presidente vitalícia (pena que a morte, também, a tenha levado por esses dias fatídicos que a todos nos entristecem), Dona Maria da Graça Salema de Castro. Além da memória, uma fotografia de jantar, em Tormes, documenta-o na quarta capa de meu livro A Boa Mesa de Eça de Queiroz.