A bomba de hidrogênio da Coreia

José Goldemberg
Professor, ex-ministro de Ciência e Tecnologia e
presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp)
opiniao.pe@dabr.com.br

Publicação: 09/01/2016 03:00



Bombas atômicas são armas de destruição em massa. Uma bomba como a que foi lançada sobre Hiroshima no Japão em 1945 tinha um poder explosivo de 20 mil toneladas de nitroglicerina, equivalente a mil caminhões carregados com 20 toneladas de explosivos, capazes de arrasar um quarteirão. Com uma única bomba atômica, Hiroshima foi totalmente destruída, matando cerca de 100 mil pessoas.
O “explosivo” usado nas bombas atômicas é o urânio enriquecido que poucos países são capazes de produzir. A fissão deste urânio é que libera a energia da explosão. Por essa razão, apenas 9 países possuem hoje bombas atômicas (Estados Unidos, Rússia, China, França, Inglaterra, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte).
Bombas atômicas são consideradas “armas de dissuasão” que protegem o país contra ameaças à sua soberania e nunca foram usadas a não ser no fim da 2ª Guerra Mundial contra o Japão.
Existe um tratado internacional que proíbe outros países de construí-las e a violação deste tratado implica na aplicação de sanções econômicas como ocorreu com o Irã.
Sucede que pode-se usar uma bomba atômica para “incendiar” um outro combustível que não é o urânio enriquecido, mas o deutério e o trítio, que se “fundem” emitindo grande quantidade de energia. Estas são as bombas de hidrogênio, mil vezes mais poderosas que as bombas atômicas.
Apenas as grandes potências foram capazes de produzir bombas de hidrogênio, que são mais complicadas.
Parece pouco provável que a Coreia do Norte tenha conseguido fazê-lo, e a explosão anunciada pode ser apenas um golpe de propaganda.
Mesmo que o conseguisse, não teria meios de lançá-la contra Seul na Coreia do Sul ou sobre Tóquio no Japão.
Ainda assim, nas mãos da Coreia do Norte, seria um forte instrumento de dissuasão para evitar que o país fosse invadido ou o governo desestabilizado.
Provavelmente novas sanções serão aplicadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas contra a Coreia do Norte que provavelmente não teriam grande efeito já que o país já é isolado no mundo.
Só um grande esforço de pacificar a península coreana estabelecendo um tratado de paz com a Coreia do Sul, que integrasse a Coreia do Norte no mundo, poderia impedir mais proliferação de armas nucleares naquela região do mundo.