EDITORIAL » A odisseia brasileira no espaço

Publicação: 28/01/2016 03:00

Em 73 segundos, a professora Christa McAuliffe, primeira civil a participar de um programa espacial, entrou para a história não da forma como se esperava. Há 30 anos, em 28 de janeiro de 1986, ela e mais seis astronautas do ônibus espacial Challenger foram vítimas de uma explosão que mudaria drasticamente o programa norte-americano de conquista do espaço. Em pouco mais de um minuto, a euforia do lançamento no Cabo Canaveral, na Flórida, tornou-se em um lamento sentido também em outras partes do mundo, que presenciavam ao vivo a imensa bola de fogo surgir no céu.

A imagem de Christa, sorridente em seu traje, foi estampada na capa do Diario de Pernambuco do dia 29, com a manchete Tragédia comove os Estados Unidos. Era mais um episódio da corrida espacial registrado pelo jornal desde que norte-americanos e soviéticos resolveram travar uma guerra particular para ver quem mandaria a primeira missão tripulada à Lua. Até o final da década de 1960, o Brasil sonhou em ter protagonismo nesta área, mas acabou sendo ultrapassado por China e Índia. África do Sul e Israel já apresentaram melhores resultados no envio de espaçonaves e satélites, essenciais em um mundo onde a tecnologia exige conexão imediata.

O programa brasileiro não escapou dos cortes do governo federal. Segundo a revista Galileu, que em 2014 fez um amplo diagnóstico da nossa pobre odisseia, o orçamento de US$ 122 milhões da Agência Espacial Brasileira (AEB) sofreu um corte de 14%. No mesmo ano, indianos e chineses investiram, respectivamente, US$ 1 bilhão e US$ 3 bilhões em seus projetos. Entrevistado pela publicação, o professor Celso de Melo, da Universidade Federal de Pernambuco e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Física, afirmava que o Brasil “perdeu o bonde”. A China, por exemplo, já desenvolve projetos para levar satélites e astronautas à Lua e a Marte.

Enquanto nos perdemos em discussões sobre se o controle do nosso programa espacial deve ser dos militares, os indianos dão lição de como construir módulos espaciais com baixo custo. Com isso, já enviaram uma sonda à Lua em 2009 e participam da exploração de Marte. O Brasil hoje se contenta em produzir satélites de monitoramento (para controlar o desmatamento na Amazônia, acompanhar o clima, facilitar as comunicações e defender e vigiar as fronteiras) e atingir o espaço com o VLS-1. Em 2014, o maior feito: o lançamento do foguete com propulsão de etanol líquido VS-30 V13 da Base de Alcântara, no Maranhão.

Foi em Alcântara que sofremos nossa maior perda. Em 22 de agosto de 2003, uma explosão do terceiro protótipo do foguete VLS-1 matou 21 técnicos e cientistas. Levamos 11 anos para substituir o modelo anterior, o Unosat-1, destruído no acidente. O Brasil tem outra base de lançamento de foguetes no município de Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Em 50 anos, a Barreira do Inferno completou a marca de três mil foguetes.

Para o segundo semestre deste ano está previsto o lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), principal projeto da área espacial em andamento. O equipamento visa atender as demandas de comunicações do Ministério da Defesa (MD) e do Plano Nacional de Banda Larga do Ministério das Comunicações.

Vale lembrar que, em 30 de março de 2006, Marcos Cesar Pontes partiu em direção à Estação Espacial Internacional (ISS) a bordo da nave russa Soyuz TMA-8, com oito experimentos científicos brasileiros para execução em ambiente de microgravidade. Retornou no dia 8 de abril a bordo da nave Soyuz TMA-7. Logo buscou abrigo na iniciativa privada. Depois de subir aos céus, preferiu manter os pés bem no chão. Como estamos hoje.