Uma tourada em Teruel

Elder Lins Teixeira
Consultor e professor emérito da UPE

Publicação: 15/07/2016 03:00

A tarde de um recente sábado em Teruel, pequena cidade da região espanhola de Aragão, foi marcada por uma tragédia inesperada: a morte do jovem toureiro Victor Barrio em pleno espetáculo na arena local, atingido pelo chifre do touro que deveria matar culminando sua apresentação. Ainda que arrolada na categoria das possibilidades, a morte do toureiro em cena é sempre pouco provável - há mais de trinta anos não ocorria nenhuma na Espanha. O fato me fez lembrar as duas touradas que assisti, muito mais pelo interesse turístico dos eventos do que pela prática em si do embate entre homem e animal. A primeira vez foi em Madri, onde uma plateia bem vestida e comportada acompanhava atenta os lances dos diversos atores envolvidos no espetáculo, sempre homenageando os passes do bravo toureiro com alguns gritos de “Olé”. Na verdade o touro, destinado a morrer, antes da intervenção de seu matador é acossado por bandarilheiros, que lhe enfiam no lombo as bandarilhas, espécie de pequenos arpões enfeitados que objetivam fazer o animal sangrar e perder força, o que é seguido pelos picadores que, agora montados em belos e ornamentados cavalos, lhe vão infringindo mais alguns ferimentos, até a entrada do toureiro. Ocorreu que um dos touros a ser toureado, o segundo na programação, ficou tão enfraquecido com essas preliminares que o toureador desistiu de enfrentá-lo, determinando sua retirada da arena, o que foi feito por um pequeno grupo de vacas que o cercaram e conduziram sua saída. Outras corridas se seguiriam, mas como já tínha saciado a curiosidade me retirei da arena entre gritos de protesto da plateia. Aprendi, então, que não é recomendável deixar o local em meio a uma apresentação, e a terceira da tarde já tinha se iniciado.

Outra vez foi na cidade mexicana de Cancum, em meio a uma plateia informal e animada por alguns goles de cerveja em um ambiente tipicamente tropical e praiano. Dessa feita o toureiro, um pouco trapalhão e apesar do cansaço do animal não conseguia lhe dar o golpe de misericórdia. Na primeira tentativa a espada se quebrou e foi substituída, nas seguintes tentativas não conseguia acertar o local adequado da nuca do animal. Foi então que um gaiato gritou: “dá-lhe um trabuco” em meio a uma tremenda vaia da plateia, mas o touro afinal tinha sido vencido e já jazia no solo.

Essas duas experiências me deixaram claro que a possibilidade do touro sair vencedor é realmente muito remota, mas acontece, para infortúnio de um toureiro como o jovem Barrio e, mais ainda, que o objetivo é matar o touro, valendo até a piada mexicana, para tanto tendo de enfraquecê-lo à custa de muito sofrimento. o que justifica a discussão que se trava na Espanha em torno da manutenção desse duelo entre o animal irracional e o homem racional. Onde estará a razão ...?