O poder da água salgada

Luciana Grassano Melo
Professora de Direito da UFPE

Publicação: 27/04/2017 03:00

Certa vez li que a cura para qualquer mal é água salgada – suor, lágrimas ou o oceano. E sempre me identifiquei muito com isso.

Nunca fui atleta, nem pratico esportes coletivos. Não me importa derrotar os outros, ganhar ou perder deles. Gosto de correr porque na corrida sou eu comigo mesma e isso me faz mais forte, tanto física como emocionalmente.

Para mim, a corrida cura muitos males. Correr ao ar livre, de manhã cedo, recebendo a luz e o calor do sol é um santo remédio. Às vezes me esforço tanto que chego em casa com o rosto irreconhecível de tão vermelho. E me agrada a sensação de suar e de sentir os músculos doloridos após o treino.  

Também concordo que a lágrima é cura para os males. Mas não aquela que vem do choro que abafa, do choro que por falta de coragem de enfrentar a vida se irrompe. Acredito no poder da lágrima que gasta a tristeza e limpa a alma. Acredito na lágrima de valentia, não na lágrima de covardia, de vitimismo ou de apatia.

A tristeza se expele em água salgada, seja suor ou lágrima e se lava em água salgada: no oceano. É por isso que é difícil para mim escutar de pessoas amigas o relato de que raramente vão à praia. Banho de mar para mim é imposição. É quase uma prescrição médica. É o melhor antidepressivo.

Escrevo essa crônica a pretexto das reflexões que tenho feito sobre o que fazer para me sentir bem, apesar de tudo. Porque vamos concordar que está difícil demais se sentir bem no Brasil, hoje em dia.

Sinto uma tristeza profunda quando leio os sites dos jornais e revistas e os blogs de notícias - o que faço diariamente, porque não tenho como fugir da necessidade de sentir-me bem informada. Até porque televisão já não assisto há muitos anos, exceto o canal Off, que mostra imagens iradas de belos jovens praticando surf.

Tenho o vício de ser otimista e de me identificar mais com a Páscoa de que com o martírio de Cristo. Isso porque sou cheia de esperança, como devemos todos ser para o bem de nossa saúde mental.

Mas vamos concordar que está difícil demais ter esperança, hoje em dia. É por isso que temos que procurar nossos caminhos. Eu acredito no poder da água salgada como caminho para ter mais vida e esperança.

Certamente existem outros. Acho que o mais importante em momentos de crise violenta como a que vivemos hoje em dia, quando chegamos a duvidar de que seja possível combater a derrota moral diariamente dada como notícia em manchetes de jornais e revistas é procurarmos o caminho para sentir-nos bem e com esperança, do contrário restará somente o conformismo e a apatia.

Não se trata de procurar voltar os nossos olhos apenas para as nossas questões pessoais e de fazer de conta que não vivemos em um país que agoniza. Mas de tratar-nos bem, de prestarmos mais atenção à nossa saúde física e emocional, e de fazermos escolhas para estarmos em paz. O Brasil precisa que nós brasileiros estejamos cheios de indignação e raiva, mas plenos de esperança e paz.