EDITORIAL » As incógnitas sobre 2018

Publicação: 24/06/2017 03:00

Pesquisa recém-divulgada do DataPoder360 traz um dado curioso. Aponta que 61% dos brasileiros não têm intenção de ir a manifestações contra ou a favor do governo Michel Temer. O resultado pode ser traduzido como revelação do estado de ânimo do brasileiro, neste momento — ou seja, um estado de apatia. Não deixa de ser surpreendente porque o governo Temer, segundo o mesmo levantamento, conta com apenas 2% de avaliação positiva e 79% consideram que ele deveria renunciar ou ser cassado. E até o ano passado o Brasil teve grandes manifestações em diversas partes do país.

Talvez faça parte dessa “apatia” a busca por um candidato que seja diferente dos que aí estão colocados. Esse raciocínio vem a propósito de jantar realizado por artistas com o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, no Rio. Lá estavam, entre outros, Caetano Veloso, Marisa Monte, Fernanda Lima, Thiago Lacerda, Fernanda Torres, Lázaro Ramos e Letícia Sabatella — esta, como vocês lembram, xingada na rua ano passado por manifestantes hostis ao governo Dilma Rousseff.

No jantar cogitou-se a possibilidade de Joaquim Barbosa ser candidato à Presidência da República. Nenhuma surpresa que o assunto tenha sido tratado. Primeiro, porque o encontro havia sido definido por artistas com o ex-ministro durante ato pelas Diretas-Já, do qual eles participaram; e segundo porque o próprio Barbosa, no último dia 7, revelou que já tinha conversado com Marina Silva (Rede) e com o PSB, e estava “refletindo” sobre disputar eleição. No jantar, porém, Barbosa disse que não seria candidato, segundo relato da anfitriã do encontro, a produtora cultural Paula Lavigne. “A gente tentou, acho que estamos precisando de um modelo, um modelo diferente de Trump e Doria, mas ele disse não”, relatou ela. “Eu até brinquei com o ministro, dizendo que, se o Bolsonaro fosse eleito, a culpa seria dele”.  Barbosa teria levantado duas questões que poderiam dificultar uma eventual candidatura — a falta de dinheiro e outra que ele resumiu numa pergunta: “Será que o Brasil está preparado para ter um presidente negro?”.

Atentem os leitores que não estamos defendendo nem contestando esta ou aquela candidatura, e sim fazendo um simples exercício de análise com base no contexto do momento.  Na pesquisa mencionada, assim como em outras anteriores, de institutos diferentes, a liderança folgada é sempre de Lula. Mas episódios como este do jantar de artistas no Rio (a maioria deles tradicionalmente engajada em causas progressistas) podem ser indicativos de que há no seio de parte da população um sentimento ainda impossível de quantificar, mas revelador de duas coisas: da insatisfação com os nomes postos e da vontade de contar com outras alternativas.