Taxa de câmbio na retomada

Alexandre Rands Barros *
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Publicação: 16/12/2017 03:00

A inquestionabilidade da retomada econômica tem desviado o foco de atenções para a sua sustentabilidade de longo prazo, cuja maior ameaça vem do desequilíbrio fiscal de médio e longo prazos, nas diversas esferas de governo. Uma outra preocupação tem sido abandonada pelos agentes, por causa de sua pouca relevância para o setor financeiro, maior patrocinador dos estudos e discussões sobre perspectivas econômicas. O equilíbrio da taxa de câmbio com valorização pode reduzir a competitividade da indústria nacional e com isso exportar os impulsos de demanda gerados no processo de retomada e, dessa forma, reduzir o ritmo de crescimento nos próximos anos. A média da taxa de câmbio efetiva real em 2017 já foi apenas de 80% da média do segundo semestre de 2015, 86% da média encontrada no Governo Lula e apenas 66% da média encontrada no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002). Foi melhor apenas do que a média do Governo Dilma Rousseuff, por essa ter tentado controlar a inflação com valorização cambial, um dos maiores erros recorrentes dos populistas latino-americanos.

A maior ameaça ao desequilíbrio fiscal tem sido o déficit crescente da Previdência Social, decorrente do envelhecimento da população e da generosidade das regras atuais com o alto escalão dos servidores públicos. Daí a grande preocupação e necessidade da reforma da Previdência, pois ela será a solução para essa maior ameaça para o futuro crescimento de nossa economia, mesmo que tênue, dado o desbate que sofreu recentemente, e foco um pouco distorcido, por ter sido suave na redução de privilégios no setor público. Mas uma outra ameaça ao equilíbrio fiscal não desprezível advém das expectativas de vitória populista nas próximas eleições para presidente. Não se vislumbra de forma séria o retorno das políticas setoriais discricionárias da forma praticada por Dilma Rousseuff, cujas perspectivas elevariam ainda mais as incertezas, mas ainda assim a utilização do orçamento público para satisfazer demandas corporativas de segmentos específicos, sejam setores econômicos ou grupos sociais, consiste em uma ameaça séria ao futuro desempenho da economia. Essas têm sido também uma preocupação grande dos agentes econômicos nas suas decisões de investimentos e por isso o ritmo lento da retomada.

O crescimento do PIB brasileiro tem sido muito puxado pelas exportações. Tanto que elas consistem no seu componente que mais cresceu no acumulado dos três primeiros trimestres de 2017, quando se compara ao mesmo período de 2016. Esse crescimento foi muito impulsionado pela desvalorização cambial ocorrida entre 2014.III e 2015.IV (extremos incluídos). Para se ter uma ideia, as importações caíram mais de 9% na soma desses seis trimestres quando se compara ao mesmo período dos dois anos anteriores, enquanto o PIB caiu apenas 1,3% entre esses mesmos dois períodos. As exportações demoram um pouco a reagir. Por isso subiram 3,8% nesse período, tendo continuado a subir nos meses posteriores. No terceiro trimestre de 2014, as importações representaram 13,9% do PIB enquanto as exportações apenas 10,7%. No terceiro trimestre de 2017, esses percentuais eram de 11,9% e 12,8%, respectivamente. Isso mostra quanto o setor externo contribuiu para atenuar a queda do PIB e a retomada do crescimento.

A valorização cambial ocorrida desde o início de 2016 não foi ainda suficiente para eliminar o crescimento da participação das exportações no PIB, mas já trouxe uma retomada da participação das importações nele. Isso significa que quando a economia voltar a crescer mais rápido, as exportações não vão crescer mais tanto e o crescimento das importações vai se acelerar. Aí a valorização cambial vai ficar mais clara. Se isso trouxer a enxurrada de capital estrangeiro que é comum ocorrer em momentos de crescimento do Brasil, aí poderemos novamente ter nosso crescimento fortemente reduzido pelo setor externo. Isso limitará bastante o desempenho de nossa economia.

* Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco