EDITORIAL » Descaso e insegurança

Publicação: 23/01/2018 03:00

Uma estudante de engenharia química, de 21 anos, foi baleada, na Praia da Reserva, zona oeste do Rio de Janero no domingo, por um criminoso que, em fuga, fez vários disparos a esmo. O projétil atingiu a barriga da jovem, que está internada em estado grave. Um outro banhista também foi ferido pelo mesmo bandido, mas não corre risco de morte. Foi mais um fim de semana, como outros que se repetem ao longo do ano, marcado pela violência. No dia 13 último, uma grávida de oito meses recebeu um tiro da cabeça, durante uma tentativa de assalto. Ela foi submetida a cesariana e o bebê está na unidade de tratamento intensivo eme estado grave.

O avanço da violência no Rio Janeiro compromete o título de Cidade Maravilhosa, bem-merecido pela magnífica topografia que emoldura a orla da capital fluminense. Em 2017, foram 6.731 mortes violentas , o que resulta num média de 18 casos por dia. Só a letalidade policial fez, durante o ano passado, 1.124 vítimas, segundo o Instituto de Segurança Pública do estado.

A cada policial assassinado, 36 pessoas são mortas em supostos confrontos com policiais. O dado não só reforça a suspeita de comportamento vingativo dos agentes, mas aponta para a incapacidade de o Estado apurar e chegar aos criminosos. Mostra também o despreparo psicológico dos policiais para lidar com as perdas impostas à corporação. Essa incapacidade revela a inexistência de política pública de segurança, o que deixa os encarregados do combate ao crime reféns dos criminosos, pela falta capacitação, treinamento e equipamentos de proteção – é o revólver calibre.38 do policial contra o fuzil do traficante.

Os dados, principalmente os coletados pelos órgãos estaduais, mostram que a crise na segurança pública reflete o descalabro administrativo e a corrupção que inundaram o Rio de Janeiro. O poder público perdeu o controle e não consegue libertar a população, hoje refém da marginalidade. A vida de cada cidadão está em risco, seja dentro, seja fora de casa. As eventuais atuações das Força Nacional ou da Polícia Federal têm sido incapazes de conter a violência. Tão logo deixam o estado, a bandidagem ocupa o vácuo aberto pelo poder público.

A realidade do Rio de Janeiro reproduz, em boa medida, o que vem acontecendo no restante do país. O crime organizado, com prepostos dentro das penitenciárias, desafia os governos federal e estaduais. Pelo segundo ano consecutivo, presidiários receberam o ano-novo com motins e execuções nos presídios, como ocorreu em Goiânia. O episódio mostrou que as ações prometidas no início de 2017 não passaram de discurso vazio. A insegurança é fantasma no cotidiano dos cidadãos fluminenses e da maioria da população brasileira, que não sabe se a bala partirá da arma do bandido ou do policial.