Carnaval do Recife, proposta para crescer

Mauro Ferreira Lima
Professor da UPE

Publicação: 17/02/2018 03:00

O carnaval do Recife deve ao Galo da Madrugada seu boom anual de repercussão nacional. O bloco foi num crescendo ano a ano e virou o espetáculo grandioso que é. Tem futuro promissor. Mas precisa ser encarado como um negócio a ser tocado cada vez mais profissionalmente. O de Salvador, pela monótona repetição, está se esvaindo aos poucos, apesar da ampla cobertura de mídia. Lá, o problema é a exaustão do modelo e do axé. Reduziu a atração de multidões mais jovens. Ficou monótono assistir do alto dos camarotes o desfile repetitivo de abadás – no asfalto – que só mudam as cores de um bloco para outro.

Até a permissividade pansexual desses blocos não mais representa atrativo exclusivo para o evento. Entre 2010 e 2018, 15 blocos de renome deixaram de passar pelos circuitos. Custos elevados também estão causando a decadência. Nem mesmo a inclusão dos “Filhos de Gandhi” nesses circuitos, poderá reduzir a mesmice. Pelo contrário... irá reverberá-la ainda mais.

Em termos de futuro, além do carnaval do Recife, também o surpreendente de São Paulo e o de Belo Horizonte continuarão a crescer. O Rio, continuará a atrair grande público e a reinar, sobretudo, quando passar esta maré de violência e horrores que se abateu sobre a cidade.

No caso do Recife, o potencial para crescer como um “negócio” poderá ser estimulado a beneficiar mais a cidade gerando incremento de emprego, trabalho e renda nos hotéis, restaurantes, lanchonetes, oficinas de madeira e ferro, shoppings, meios de hospedagem em residências, segurança, estabelecimentos de vestuário e confecções, gastronomia expressa... dentre outros segmentos ligados à cadeia produtiva do evento.

Este carnaval local tem tudo para “explodir”! Diferentemente de Salvador, o público que é atraído para os camarotes de um desfile como o do “Galo”, não vivencia nada de monótono. O visual dos milhares de participantes com suas hilárias fantasias, por si só, já é extasiante e uma festa para os olhos.

Para ampliar a dimensão deste carnaval, há que explorar ainda mais o potencial do Recife Antigo e o de Olinda. Uma cidade que dispõe, a seu lado, de uma festa tão singular, alegre e irreverente como a da vizinha cidade, já é por si só um privilégio e um produto a ser “marketizado”. Nossa proposta pontual é fundir os dois carnavais e transformá-lo na marca “Carnaval Recife-Olinda”. Isto vai “pegar” e potencializará uma maior atratividade nacional para a festa pernambucana. Que estado no Brasil dispõe de um conjunto de atrativos em uma única festa como o “Galo” estrondoso, o frevo, os blocos antigos, maracatus, bonecos gigantes, caboclinhos, tambores silenciosos, virgens de Olinda, escolas de samba, prévias tradicionais e até espaço poprock para os mais alternativos? Isto precisa ser mais difundido e se tornar um produto “vendável” pra valer nos pólos emissores mais estratégicos como São Paulo e seu interior, Goiás, Brasília e a vizinhança do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Outros estados virão por gravidade.

Para potencializar, qual caminho a seguir? Primeiro, “vender a ideia” e institucionalizar a aliança entre o governo do estado-Olinda e Recife. Em seguida, partir para buscar os patrocínios e parcerias com a ABIH, associações de bares e restaurantes, indústrias de bebidas, empresas de cartões de crédito, redes sociais e sites estratégicos como o G1, Uol e Band. O estímulo para se conhecer o “Carnaval Recife-Olinda” já deverá estar em boxes publicitários nestes sites ao menos três meses antes da festa. O público despertará o interesse e estes sites certamente terão anúncios incrementados pela associação ao evento. É este o caminho para transformar Pernambuco num destino ainda mais procurado a partir de 2019.