A salvadora !

Roberto Pereira de Carvalho Filho
Empresário e engenheiro

Publicação: 21/07/2020 03:00

Dona Francisca Raimunda Pereira da Silva, nascida em Tamboril, Ceará, há exatos 100 anos, não foi homenageada como deveria pelos homens. Seguem os fatos e motivos.

Nas décadas de 1960 e 1970, o chamado fechecler, uma corruptela francesa, hoje moderno chamado de zíper, causava vários acidentes na genitália masculina. Não existe a menor possibilidade que algum homem maduro não tenha vivenciado uma traumatizante experiência. Abrindo, beliscava os pertences masculino, mas fechando... hummmm, agarrava o que aparecia pela frente, sem clemência. Eu acho que o fechecler tinha vida própria, escolhia suas vítimas da vez, sem perdão e distinção. Grudava como um ataque de pitbull, não larga nem sob a presença do velho alicate. O pior é quando ativamos a memória da dor, tristes recordações.

O problema era tão sério que gerou debates na OMS. Relatos de mutilações transformaram o fechecler num vilão. Apesar de um ser um artefato prático, tornou-se um problema global, prestes a ser banido.

Cientistas do mundo inteiro, financiados pela multimilionária indústria da moda, lutavam para criar um meio de evitar que o mal-amado enganchasse naquele lugar. Sem sucesso!

Uma humilde costureira cearense, Dona Mundinha, analfabeta, teve a ideia de colocar um pedaço de tecido entre o fechecler e a parte interna da calça de seu marido, seu Anastácio, conhecido pela alcunha de Tacim Zovão, que tinha repetidos acidentes, por conta do aumento dos testículos causado pela caxumba. O “salva-rola”, como apelidaram a peça, consagrou-se em Tamboril, seguiu para Fortaleza, São Paulo, Nova York, Europa e o mundo. Um sucesso!

A ideia de Dona Mundinha foi um divisor na poderosa indústria da moda. Como não patenteou, perdeu a oportunidade de torna-se bilionária, morrendo pobre em 2001.

Era super revoltada com seu apelido de Mundinha Salva-Rola, tinha resposta pronta quando lhe provocavam, dizia: “quisera nunca ter inventado isso e esse bando de fela da puta morresse com gangrena na chibata”.

O escritor e pesquisador Pedro Salgueiro resgatou a história de Mundinha e enviou documentação para Estocolmo, pedindo à Academia da Suécia, responsável pelo prêmio Nobel, algum reconhecimento para a heroína dos homens, mas os suecos se revelaram tão preconceituosos quanto a meninada de Tamboril, que pixava “Mundinha da Rola” no muro de sua casa.

Mundinha Salva-Rola não salvou as finanças de sua família, mas foi uma salva-rolas para todos nós!