Avanços e desafios nos 20 anos da descrição da Osteonecrose dos Maxilares Induzida por Medicamentos

Jair Carneiro Leão
Professor Titular do Curso de Odontologia da UFPE. Professor Visitante da Universidade de Parma e Membro da Academia Pernambucana de Ciências
e Paolo Vescovi
Professor Titular do Departamento de Medicina e Cirurgia da Universidade de Parma e pioneiro na descrição, prevenção e tratamento da MRONJ

Publicação: 25/04/2024 03:00

Há duas décadas, um marco na odontologia e na medicina foi estabelecido com a primeira descrição da Osteonecrose dos Maxilares Induzida por Medicamentos (MRONJ), anteriormente associada principalmente aos bifosfonatos, mas agora reconhecida também em decorrência do uso de outras drogas anti-reabsortivas como o denosumab, e as drogas anti-angiogênicas. Este distúrbio, uma complicação grave e potencialmente debilitante, tem sido objeto de estudo, evidenciando tanto os desafios quanto os avanços na área da saúde bucal e além.

A MRONJ é uma condição preocupante que se manifesta predominantemente em pacientes submetidos a tratamentos prolongados com medicamentos que afetam o metabolismo ósseo e a vascularização. Os bifosfonatos, tradicionalmente utilizados para o tratamento da osteoporose e do câncer ósseo metastático, são conhecidos por inibir a reabsorção óssea e, por conseguinte, reduzir o risco de fraturas. No entanto, seu uso prolongado pode desencadear a MRONJ, caracterizada pela necrose dos tecidos ósseos dos maxilares. Da mesma forma, as drogas anti-angiogênicas, amplamente empregadas no tratamento de diversos tipos de câncer, como o câncer de mama e o câncer colorretal, têm sido associadas a um aumento do risco de desenvolvimento desta complicação.

É importante ressaltar que a alta incidência de osteoporose, uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, tem contribuído para o aumento da prescrição de medicamentos anti-reabsortivos. Estes agentes são fundamentais para a prevenção e o tratamento da osteoporose, mas seu uso prolongado requer mais uma vez a vigilância cuidadosa devido ao risco potencial de desenvolvimento de MRONJ.

Neste cenário, não podemos subestimar a importância dos antibióticos no tratamento da MRONJ. A terapia antimicrobiana desempenha um papel essencial na prevenção e no combate às infecções secundárias, que podem exacerbar ainda mais os danos causados pela osteonecrose. Importante destacar ainda o papel crucial do laser como adjuvante ao tratamento cirúrgico. O uso de laser tem demonstrado benefícios significativos na aceleração da cicatrização, redução da dor e controle da infecção, representando assim um recurso valioso na gestão da MRONJ, embora ainda pouco acessível no Sistema Único de Saúde (SUS). A precisão e seletividade do laser na remoção de tecido necrótico, sem comprometer os tecidos circundantes, contribuem para uma recuperação mais rápida e eficaz dos pacientes afetados por esta condição.

É com orgulho que observamos os resultados exemplares alcançados pela Clínica Odontológica da Universidade de Parma, na Itália, que ao longo dos anos tem sido uma referência no tratamento da MRONJ. Com cerca de 700 casos atendidos e uma taxa de sucesso acima de 95%, esta instituição demonstra não apenas competência clínica, mas também um compromisso inabalável com a pesquisa e a inovação no campo da odontologia.

Finalmente, à medida que celebramos os 20 anos desde a sua primeira descrição, é essencial destacar o papel da prevenção da MRONJ através da promoção de uma boa saúde bucal, incluindo a manutenção da higiene oral adequada e o acompanhamento regular com um profissional de odontologia, para minimizar o risco de complicações bucais que podem predispor ao desenvolvimento da osteonecrose.