O influenciador de Deus

Múcio Aguiar
Jornalista, mestre em Ciências da Religião e douramento em Ph.D em arqueologia pela Universidade de Coimbra (Portugal). Autor de Aparições e milagres de Nossa Senhora em Cimbres.

Publicação: 30/05/2024 03:00

Os noticiários nos trazem a canonização do jovem Carlo Acutis, que em 2006, aos 15 anos, faleceu de leucemia, na Itália. Nascido em Londres, o adolescente ganhou notoriedade em razão do seu trabalho missionário por meio da internet.

O primeiro santo millennial (geração formada por aqueles nascidos entre 1980 e 1995) anunciado pelo Vaticano, apelidado de “influenciador de Deus”, foi beatificado em 2020 após a Igreja Católica reconhecer seu primeiro milagre: a cura de um menino, de três anos, diagnosticado com rara doença congênita, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A suposta cura teria ocorrido após o avô do menino tocar em uma peça de roupa que continha o sangue de Carlo.

O segundo milagre reconhecido pela Igreja ocorreu com Valeria Valverde, de vinte um anos, nascida na Costa Rica e que estudava em Florença (Itália). Em 2022 entrou em coma irreversível após um acidente de bicicleta, em que ela bateu a cabeça gravemente. Sua mãe, Liliana em visita ao túmulo de Carlo, em Assis, pediu a intercessão do beato. No mesmo dia do pedido, a sua filha voltou a respirar sem os aparelhos e no dia seguinte recuperou parcialmente a mobilidade e a fala.  

O processo para o reconhecimento da santidade tem início com a fase diocesana, que elabora o dossiê que será encaminhado ao Dicastério para as Causas dos Santos que fará a investigação das virtudes ou martírio, será investigada a vida do Servo de Deus, e se verifica sua vivência das virtudes. No caso de um mártir, devem ser estudadas as circunstâncias que envolveram sua morte, para comprovar se houve realmente o martírio. Ao término desse processo, a pessoa é considerada venerável.

O segundo momento, para a beatificação é necessário à comprovação que um suposto milagre tenha ocorrido por sua intercessão. No caso dos mártires, não é necessária a comprovação de milagre. O milagre é todo acontecimento sobrenatural não explicado pela ciência.

A canonização é a declaração de que o beato é santo, o reconhecimento de um segundo milagre, por sua intercessão.

Segundo alguns estudiosos, a causa da canonização teve origem na Igreja primitiva que buscava reconhecer os mártires que defendiam o cristianismo e eram perseguidos pelo Imperador Nero. No início, os cristãos aclamava a santidade de alguém e cabia aos bispos serem os juízes dessa devoção espontânea. Só a partir da Idade Média é que teve início o processo formal de canonização dos santos, como ocorre hoje. O Papa João Paulo II, durante seu funeral chegou a ser aclamado na Praça do Vaticano como “Santo Subito”, mas só foi canonizado nove anos após sua morte, em 2005.