X da questão

Carlos Carvalho
Advogado

Publicação: 18/09/2024 03:00

Na guerra atual entre direito e política, resta uma pergunta sobre até que ponto um ou outro é o preponderante. Assistindo aos debates na imprensa, não tive a sorte de encontrar nenhum ator do direito a respaldar as ações do X e do seu representante - apenas argumentos generalistas e pouco fundamentados sobre uma tal liberdade de opinião.

Questionados sobre a legislação vigente aqui e alhures e sobre as obrigações para o exercício de atividades nos mais diversos países, os contendores partidários da liberdade passaram pela tangente e voltaram para uma retórica vazia, não palpável, zero de concreto e positivo.

Chega a ser curioso alguém defender que pedir golpe de estado, reversão da ordem, fim de poderes é liberdade de opinião. Às favas com as regras do processo democrático. Crimes contra etnias também não têm nada de liberdade. A estúpida guerra Rússia x Ucrânia rompe o tratado humano.

A revisão histórica feita por Gabeira para a década de 1960 é fantástica. De luz intensa e sem alterações, flui uma verdade única: devemos promover a paz e a democracia.

Em certa oportunidade, sala de audiência muito bem conduzida pelo nobre magistrado, estava depondo, com fino humor e sabedoria, um professor aposentado da UFPE.

Participara da equipe Paulo Freire e, como prêmio, havia sido preso e aposentado. Perderam os que não foram seus alunos. Questionado sobre os fatos ocorridos, declarou que quase toda a equipe havia sido perseguida e encarcerada e que ele e o autor da demanda também haviam sido, “...que deveriam ter sido muitas vezes mais. O método consistia em ensinar e aprender.” A resposta transformou o clima da sala, pois não era só uma provocação, mas uma afirmação de que existia uma conduta libertária, não partidária, jamais anárquica, profundamente transformadora e questionadora, que todos deviam discutir e conhecer para tentar entender. Até a presente data não fora devidamente assimilada por parte dos tupiniquins, muitos deles letrados e, em outras ou na maioria das plagas, quem sabe por ideologia política.

Ainda hoje questionado e fruto de discussões, foi reconhecido internacionalmente e imortal se tornou. E atribuem ao mestre a frase: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”

Voltando ao X da questão, não parece que o gajo (australiano), que se comporta diferentemente nos muitos países, aceitando decisões judiciais em uns e negando em outros, tenha qualquer preocupação, exceto com o próprio umbigo e o seu saber. Eclético!

Quando não mais teremos alguém que se julgue acima de tudo e de todos? Educar para questionar e não atropelar sem fundamentos pela simples simpatia ou achismo de ser. O inexorável tempo vai passando. Vida longa aos mestres!