Aldo Paes Barreto
Jornalista
Publicação: 22/11/2024 03:00
O pernambucano de Nazaré da Mata, Marcos Vinícios Rodrigues Vilaça, foi o mais destacado, o mais abnegado, criativo e bem-sucedido divulgador da nossa cultura no século passado. Jovem, com um pé na política, líder estudantil, desencantado com os rumos do golpe de 1964, tinha todas as qualidades que a burguesia sonhava para o futuro genro. Marcos Vinicios não bebia, não fumava, não prevaricava. Casou-se com a primeira namorada, companheira de toda a vida, a doce e altiva Maria do Carmo.
Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da UFPE, logo professor de Direto Internacional, seria convidado para ocupar a Secretaria do Governo Eraldo Gueiros (1971/1975), então apenas apêndice da burocracia oficial. Marcos Vilaça arregaçou as mangas. Trabalhador braçal da cultura, escritor, íntimo da boa leitura, foi dele ideia de transformar a Casa de Detenção, no centro do Recife, em Casa da Cultura. Foi ele quem recuperou, restaurou e deu dignidade à Academia Pernambucana de Letras. Na época, o vasto terreno da Academia estava sendo usado por uma clínica psiquiátrica vizinha para criar vacas. Coisa de doido.
Apoiado pelo governador Eraldo Gueiros, Vilaça entregou a administração do Conservatório de Música ao maestro Cussy de Almeida e ali nasceu o Movimento Armorial, reunindo os vários gêneros que formam a múltipla identidade musical de Pernambuco. Pelas mãos de Cussy, Ariano Suassuna, Capiba, Rafael Garcia, Jarbas Maciel, Clóvis Pereira, Guerra-Peixe e Antônio Carlos Nobrega, a arte popular renascia e a literatura de cordel ganhava roupagem musical. O maracatu, os caboclinhos, o coco-de-roda, ciranda, o samba, o afoxé e o eterno frevo estavam de roupa nova.
Nos mais diversos palcos do Brasil, a música armorial desfilou a beleza sonora, quando a mediocridade premiada ainda não determinava a musica brasileira. Bons tempos.
Marcos Vilaça foi responsável direto, agregador pluralista, pelo sucesso breve do movimento que encantou as mais variadas plateias. Pernambuco musicando para o mundo.
Quando deixou o governo do estado, Vilaça fez as malas e levou sua bagagem e suas ideias para o centro do poder: Brasília. Não lhe faltaram convites. Exerceu os mais variados cargos em entidades publicas, sempre preservando espaço para cultura. Reconhecido pela Academia Brasileira de Letras, ocupou a vaga do amigo Mauro Mota. Ao assumir, Vilaça liderou a renovação da congregação e lembrado por ter colocado o ideal ateniense acima dos movimentos polítcos à direita e à esquerda. Enriqueceu a Academia e antigos críticos do conclave envergaram o pelerine azul da casa. Jorge Amado foi um deles.
O pernambucano ganhou mundo. Em seus arquivos, estão guardadas as mais representativas comendas, fulgurantes homenagens, medalhas, insígnias, reconhecimentos de todo os nove países onde se fala, e se lê, o Português.
Em todos esses países das comunidades lusófonas, da Europa e da África, além da totalidade dos estados brasileiros, em algum lugar permanece lá a pernambucanidade, a marca da nossa gente, a diversificada música, o artesanato, os autores, as tradições e boa parte de nossa rica história, levada pelo trabalhador cultural pernambucano.
No início deste século, a trajetória ascendente e vitoriosa dos Vilaça sofreu brusca e trágica parada. Era o primeiro dia do ano. O filho mais velho, Marcantõnio, e destacado marchand radicado em São Paulo, veio passar o réveillon com a família. Morreu de mal subido naquele dia. Meses depois, também de maneira trágica perderia a neta, filha do caçula Rodrigo.
Aquele foi o ano que nunca terminou. Marcos e Maria do Carmo, também falecida, jamais foram os mesmos. Razão para viver, já não existia.
Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da UFPE, logo professor de Direto Internacional, seria convidado para ocupar a Secretaria do Governo Eraldo Gueiros (1971/1975), então apenas apêndice da burocracia oficial. Marcos Vilaça arregaçou as mangas. Trabalhador braçal da cultura, escritor, íntimo da boa leitura, foi dele ideia de transformar a Casa de Detenção, no centro do Recife, em Casa da Cultura. Foi ele quem recuperou, restaurou e deu dignidade à Academia Pernambucana de Letras. Na época, o vasto terreno da Academia estava sendo usado por uma clínica psiquiátrica vizinha para criar vacas. Coisa de doido.
Apoiado pelo governador Eraldo Gueiros, Vilaça entregou a administração do Conservatório de Música ao maestro Cussy de Almeida e ali nasceu o Movimento Armorial, reunindo os vários gêneros que formam a múltipla identidade musical de Pernambuco. Pelas mãos de Cussy, Ariano Suassuna, Capiba, Rafael Garcia, Jarbas Maciel, Clóvis Pereira, Guerra-Peixe e Antônio Carlos Nobrega, a arte popular renascia e a literatura de cordel ganhava roupagem musical. O maracatu, os caboclinhos, o coco-de-roda, ciranda, o samba, o afoxé e o eterno frevo estavam de roupa nova.
Nos mais diversos palcos do Brasil, a música armorial desfilou a beleza sonora, quando a mediocridade premiada ainda não determinava a musica brasileira. Bons tempos.
Marcos Vilaça foi responsável direto, agregador pluralista, pelo sucesso breve do movimento que encantou as mais variadas plateias. Pernambuco musicando para o mundo.
Quando deixou o governo do estado, Vilaça fez as malas e levou sua bagagem e suas ideias para o centro do poder: Brasília. Não lhe faltaram convites. Exerceu os mais variados cargos em entidades publicas, sempre preservando espaço para cultura. Reconhecido pela Academia Brasileira de Letras, ocupou a vaga do amigo Mauro Mota. Ao assumir, Vilaça liderou a renovação da congregação e lembrado por ter colocado o ideal ateniense acima dos movimentos polítcos à direita e à esquerda. Enriqueceu a Academia e antigos críticos do conclave envergaram o pelerine azul da casa. Jorge Amado foi um deles.
O pernambucano ganhou mundo. Em seus arquivos, estão guardadas as mais representativas comendas, fulgurantes homenagens, medalhas, insígnias, reconhecimentos de todo os nove países onde se fala, e se lê, o Português.
Em todos esses países das comunidades lusófonas, da Europa e da África, além da totalidade dos estados brasileiros, em algum lugar permanece lá a pernambucanidade, a marca da nossa gente, a diversificada música, o artesanato, os autores, as tradições e boa parte de nossa rica história, levada pelo trabalhador cultural pernambucano.
No início deste século, a trajetória ascendente e vitoriosa dos Vilaça sofreu brusca e trágica parada. Era o primeiro dia do ano. O filho mais velho, Marcantõnio, e destacado marchand radicado em São Paulo, veio passar o réveillon com a família. Morreu de mal subido naquele dia. Meses depois, também de maneira trágica perderia a neta, filha do caçula Rodrigo.
Aquele foi o ano que nunca terminou. Marcos e Maria do Carmo, também falecida, jamais foram os mesmos. Razão para viver, já não existia.